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Edição 2739 - 26 de Outubro a 01 de Novembro de 2013
Edição 2739 - 26 de Outubro a 01 de Novembro de 2013
Na semana anterior, duas
datas significativas para mim ocorreram: o dia do professor e o dia do médico.
Não abordarei aqui as polêmicas em torno dos temas educação e saúde, tratarei dos temas mais
subjetivamente.
A primeira data tornou-se
significativa antes mesmo da minha escolha profissional. É chavão, mas
bem resume o comentário “você pode ser advogado, psicológica, médico,
dentista... mas para tudo isso precisou/precisará de um professor”. Como aluna,
tive a abertura ao mundo, o ensino foi uma janela, como na frase “Vais
encontrar o mundo”, do livro O Ateneu,
de Raul Pompeia.
Já
cheguei à escola alfabetizada pelo meu pai que comprara a cartilha na feira e
rotineiramente me tomava as soletrações e a tabuada. Rígido, não permitia erros
nem divagações. Foi na escola, pela professora, que tive despertada a
curiosidade. Certa vez assistindo a um episódio Taken, uma série sobre extraterrestres, dei-me conta que fui
felizarda, pois a personagem mirim e
precoce conhece um professor e relata sua desilusão com a escola, pois chegou à
instituição cheia de curiosidades, mas pouco depois estava sendo podada.
Sei que há bons e maus profissionais, e em todas as
áreas. Ressalto aqui os bons e aqueles
que me inspiram até hoje. Não gosto de associar a escolha profissional a um
sacerdócio, sobretudo porque descaracteriza a necessidade de que todos devam ser bem remunerados. Como
educadora, acredito que a aptidão e as habilidades possam ser desenvolvidas e
despertadas.
Foi com a Azuba que tive meu contato com as fábulas, com o
teatro: ela fazia além do que as cartilhas propunham. Na quarta-série, com a
professora Rita, escrevi meu primeiro poema sobre o eclipse. Na sexta-série,
com a professora Aureni, não só líamos livros de gramática, escrevemos e
criamos nosso próprio livro e exercícios, e trocávamos: éramos autores e
leitores. Tive vários bons professores no antigo ginásio que reforçaram o meu
interesse em ser professora.
Cursei CEFAM
Interlagos, Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério.Tive
a oportunidade de experienciar a profissão como estagiária. Conheci uma
professora que marcou muito minha formação: Marisa Neves, sempre me
incentivando a escrever: era minha leitora não só das atividades escolares, mas
de meus rascunhos artísticos. Em uma das conversas me ajudou a escolher e
delimitar ainda mais minha profissão. Eu sonhava entrar na USP, em Letras,
muitos me desanimavam: “Jamais estudará lá!”; Ela, ao contrário, dizia: “És capaz
de entrar!” Anos depois, tornamo-nos
colegas de disciplina de pós-graduação, alunas em um curso. Chegamos a lecionar
juntas na mesma faculdade e o que era mais generoso era ver a alegria dela pelo que eu tinha me tornado, sem buscar
a autoria: ela era uma das responsáveis pelo meu sucesso pessoal.
Lecionei em vários cursos de Letras e Pedagogia e, numa
corrente em que se repete o que foi aprendido, fico feliz com a semeadura:
encontro meus professores, a voz deles
ecoam em mim, e eu ressoo nas voz de ex-alunos que hoje são colegas de
profissão. No fazer o que é obrigatório
talvez não haja mérito, é apenas um bom trabalho, mas há pessoas que fazem
além, em todas as profissões. Por um
problema de saúde tenho convivido muito em clínicas, laboratórios e hospitais.
Não é fácil
receber um diagnóstico de doença, sobretudo quando a elas está associada uma
sentença de morte. “Neoplasias”, “hepatopatias” e algumas "ites",
nomes que assustam até mesmo aqueles que adoram estudar a semântica e a
etimologia. Nem sempre os eufemismos amenizam a preocupação,
mas alguns têm a sorte de se deparar com médicos que em vez de focalizarem a doença, focalizam a saúde e tornam a caminhada mais amena e possível, mostrando que todos têm suas limitações, seus pontos nevrálgicos. Não que estejam ignorando o sofrimento, mas ajudam a enxergar que “apesar de”, é sim possível viver.
mas alguns têm a sorte de se deparar com médicos que em vez de focalizarem a doença, focalizam a saúde e tornam a caminhada mais amena e possível, mostrando que todos têm suas limitações, seus pontos nevrálgicos. Não que estejam ignorando o sofrimento, mas ajudam a enxergar que “apesar de”, é sim possível viver.
Nessa minha
caminhada alguns têm ajudado, no papel de médico, a carregar a bagagem. Há,
portanto, médicos de corpos e de alma,
assim como há professores de conteúdo e de vida.