Caro
leitor, há quanto tempo você não escreve uma carta? Se você tiver menos de vinte anos de
idade, talvez a sua última experiência tenha sido na escola.
A pesquisadora Solange Barros,
integrante do Laboratório de Estudos em Ética nos Meios Eletrônicos tem divulgado em suas palestras
e materiais produzidos - como os dois livros De bem com a Internet e O uso legal da Internet, disponíveis no
link http://www.mackenzie.br/leeme.html - que as crianças conhecem as cartas em experiências práticas na escola: levam
envelopes, escrevem a carta e endereçam-na a um destinatário, portam-se como
remetentes. Escrevem, às vezes, neste contexto, como única experiência e como
uma experiência única.
Temo, refletindo sobre o tema,
que para os nascidos já na época da democratização da internet, e-mails, redes
sociais, a carta exista apenas como produção do passado e referência linguística em “correio
eletrônico”.
Sobre os usuários das tecnologias
já há terminologias específicas: os “nativos digitais”, os que nascidos na
época do predomínio dessa tecnologia a dominam; os “migrantes digitais”,
geração nascida com predomínio de outras tecnologias, mas que fazem uso do
computador, da internet; e há aqueles que são alheios a ela: os “estrangeiros digitais”. Considero-me uma migrante digital e procuro
fazer os bons usos das tecnologias (tema que abordarei em outro artigo)
preconizados pelos educadores, filósofos, comunicólogos, psicológicos.
Penso
que as redes sociais podem aproximar pessoas e auxiliar na comunicação, mas
também pondero com o filósofo Mario Sergio Cortella: elas unem o que antes não estava
separado. Não sou negativista, nem
apocalíptica, nem saudosista: degusto e presentifico, nessa migração, os
recursos anteriores carregados de poeticidade e carinho. Há anos, em um pacto,
sobretudo comigo mesma, disciplinei-me a escrever cartas. Tenho uma afilhada
que faz aniversário na mesma data em que eu faço e, desde que ela aprendeu a
escrever, começamos a trocar correspondências para nos felicitarmos. Isso
começou porque cinco anos atrás a internet em Picos, Piauí, onde ela reside, não
era tão acessível.
Agora,
final de ano, sou motivada a escrever
pelas trocas de cartão, pelo agradecimento aos leitores que enviam
cartas ou livros, pela escrita de cartas reflexivas sobre o ano
que passou e pelos planos para o ano que
começa. Diariamente, correspondo-me com afilhados e amigos usando a internet, mas tento manter o hábito das velhas
e boas correspondências, como registrei, pelo prazer e carinho envolvidos no
processo.
Para
quem tem a informação em um click, hoje,
a demora - dias ou semanas - para uma carta chegar parece uma eternidade. Inacreditável
que, há pouco tempo, essa espera era normal e aceitável, pois era o mais rápido
que podia ser. Escrevo a carta e tenho que guardar segredo de mim mesma e do
destinatário, ou brincar de suspense, pois enquanto a carta viaja, continuo me
comunicando por e-mails, redes
sociais, telefones...
Por isso
mesmo o ato de escrever cartas faz com que as pessoas "pratiquem"
outras habilidades, como, por exemplo, a paciência e o controle da ansiedade
até mesmo para abrir o envelope.
Esse
carinho transpassa a relação entre remetente e destinatário. Tornei-me amiga do
carteiro da rua Contos Amazônicos, o Marcos.
Ele sabe de cor o nome dos moradores e, como nós, alegra-se com a
entrega de correspondências: quando às vezes o encontro ainda distante de minha
rua, questiono “Hoje há mais que contas?” E ele antecipa: “Sim, hoje receberá
uma carta!”
Voltemos, então, à pergunta
inicial: há quanto tempo não
escreve de forma tradicional? Escrita
em papel, preenchimento do envelope com remetente e destinatário? Ida ao
correio?
EM
TEMPO: Continuarei essa temática na próxima edição, pois há muito para tratarmos
sobre cartas, cartões, internet... Retomarei, também, o texto anterior, A
importância da língua portuguesa no contexto profissional, pois deixei
erros: “Ler jornais de textos anteriores revelaM”, “... às vezes é possível conversar com
pessoas com idades diferente( )” e “...como terá passado na seleção, em meio HÁ
tantos concorrentes?”
. Você percebeu? Precisarei de outro artigo para explicações. Até lá!