Começo
retomando a crônica da Daniella Barbosa publicada na semana passada.
Inicialmente, para agradecer ao que chamaria homenagem, mas principalmente, quero
agradecer à parceria, estendida aos
leitores que têm também contribuído com manifestações positivas em e-mails e
mídias sociais, compartilhando mensagens, livros e informações literárias. Retomo aqui também as reflexões sobre
intertextualidade e sobre o poetar como ação, talvez imbuída pelo dia do escritor, comemorado dia
26 de julho, e pelo contato mais próximo com amantes da literatura:
Li
o livro Crônicas Natalinas,
enviado por E. Figueiredo. O livro não
se restringe ao tema proposto no título, sintetiza: “é nessa fase, fim do ano,
que mais revisitamos nossa história” . E
o autor rememora as mudanças ocorridas na língua portuguesa, nas crônicas Nostalgia
e UAi!; revive suas primeiras leituras em Euseitudo! , Os
três mosqueteiros eram quatro! e nas narrativas sobre os super-heróis e sacis, sem deixar de
citar os outros textos que remetem à história do Brasil e nos convidam a
repensar nossa própria vida. Também propõe isso Vera Maria Barbosa.
Essa
autora que tem vários outros escritos e alimenta um blog com seu poetar, presenteou-nos com o livro Falando
à alma. Com temática que
inicialmente o classificaria como autoajuda, tem aspectos literários
expressivos: nas antíteses propostas na construção das crônicas Amigo,
Amor
e paixão, e É bom; na intertextualidade proposta na retomada e no repensar
textos religiosos e textos poéticos,
provocando o leitor a se perguntar “Foi Pessoa? Ou foi Camões?”; Na
metaforização de comparar o ser humano à água, ao rio que tornam os seus textos
parábolas, permitindo uma pluralidade de leituras, como já defendemos.
Também
apresento aqui um tom mais subjetivo, testemunhando que isso não diminui o valor do texto, uma vez que o relato pessoal pode refletir o coletivo : a
literatura como metáfora apresenta múltiplas leituras e interpretações. “O que
deveras sente”, o “fingimento poético”,
o aparentemente, mas não necessariamente biográfico e singular podem “
metonimizar” o coletivo, como tematizaram Drummond no poema Canção Amiga “Eu preparo uma canção/ em que minha mãe se reconheça,/ todas as mães se
reconheçam,/ e que fale como dois olhos” e Fernando Pessoa em Autopsicografia:
“O poeta é um fingidor. /Finge tão completamente/Que chega
a fingir que é dor /A dor que deveras sente. //E os que leem o que escreve, /Na
dor lida sentem bem, /Não as duas que ele teve, /Mas só a que eles não têm.”
Dia
21 de julho tive a oportunidade de ir ao evento da COOPERIFA na biblioteca
Mário de Andrade. Vários acontecimentos culminaram em uma emoção singular.
Emocionou-me o fato de eu saber do evento por uma ex-aluna, e hoje colega de
profissão, Elaine Martins: amante e divulgadora da poesia, como educadora e
como integrante do grupo. Revivi ainda, mentalmente, o primeiro sarau “público”
para divulgação das poesias ganhadoras de um concurso literário no qual
participei em 1996, naquele mesmo local.
E
pensando como a poesia é mesmo metafórica, pois mesmo abordando temas
específicos sobre os problemas da região, extremo-sul, como é referenciada em
muitos textos de divulgação sobre o grupo, os poetas falam sim da realidade
singular da região do Capão Redondo, mas num “quiasmo discursivo” recuperam discursos de outros poetas, ou
seja, tratam de inquietudes que refletem os problemas gerais, as inquietudes
humanas e sociais, como as levadas à
ruas nas passeatas em junho, textualizadas em poesias panfletárias ou não, contemporâneas ou clássicas. Reli,
por meio da declamação e retextualização dos poetas da COOPERIFA: A
flor e a náusea, de Drummond; Águas de março, de Tom Jobim, sem
listar as centenas de poetas que me vieram à cabeça, resgatados pelo que ouvia. E o melhor,
ouvir o encerramento emblemático: “A poesia venceu novamente!”, como o hino do
grupo, encheu-me de uma estimulante perseverança e certeza:
“Sim, poetar é lutar!”... e não há papéis , ou leitura determinada nesse
processo. Eram do tal extremo-sul, encontram-se no bar biblio-poético às
quartas-feiras, mas estavam ali, no centro de São Paulo, na biblioteca, em uma
poesia viva, num sábado, e sempre nos blog, em vídeos, em redes sociais. É o
grupo, a poesia, rompendo fronteiras geográficas e temporais.
Eu,
às vezes, ouso escrever, mas tenho sido, prazerosamente, mais leitora e, por
meio das relações permeadas pela paixão pela literatura, educação, estendem-se, de forma hipertextual as
reflexões e, sobretudo as amizades. Assim, polemizando a provocação proposta
por Drummond, ousamos, juntos, ser
poetas nesse mundo caduco.
Edicao-2728-10-a-16-de-agosto-de-2013 (página 26) http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=115