Edição 938 INTERLAGOS NEWS - 15 a 21 de Março de 2014
http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=214
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Embora já tenha passado o carnaval, ainda o comentaremos aqui, sobretudo por que, na semana passada, houve o desfile das campeãs e mesmo as escolas que perderam anunciaram que já estão se preparando para o carnaval 2015.
Neste presente texto não teceremos as críticas que o tema também desperta, pois isso renderia um texto dissertativo sobre economia, alienação, perigos, gravidez, banheiros químicos insuficientes nos blocos de carnaval, moradores "ilhados", por não terem sido avisados de que haveria carnaval de rua; proximidades do sambódromo cobertas de lixo.
Trataremos desse tema aqui, mas sobre o enfoque literário. Acreditem, esse termo "carnaval, é também correspondente à literatura. Já tratamos aqui do tema intertextualidade, relação entre textos, bem como dos itens "citação", "paráfrase", "paródia", “polêmica", "estilização", que são formas como esses textos se relacionam... “Carnavalização”, mais especificamente, corresponde, segundo o teórico Affonso Romano de Sant’Anna, a “uma forma de estudar os textos literários e mesmo a cultura de um povo, procurando os efeitos cômicos e parodísticos que mostram como a comédia pode revelar alguns traços do inconsciente social”. O autor acrescenta, ainda, na mesma obra, Paródia, paráfrase & Cia que “Através do estudo das máscaras, do grotesco, do riso das antíteses entre vida e morte, religião e festa, violência e orgia, inverno e primavera, carnaval e quaresma, pode-se estudar a dialética da própria vida”. Por isso acreditamos que nossas reflexões, que ora citam o chamado “popular”, ora citam o chamado “erudito”, sejam pertinentes, pois é possível, se não refletir sobre a literatura e sociedade, refletir sobre a vida.
Não à toa o Carnaval antecede a Quaresma como a despedida do que é proibido; não à toa a hiperbolização (exagero) dos papéis; a hiperbolização da inversão dos papéis, travestindo-se nas fantasias; não à toa a hipérbole na frase de que o ano só começa depois do Carnaval. Claro que o ano começou antes, mas a Quaresma é a retomada da sobriedade... anunciada até mesmo pelo Imposto de Renda e pela continuidade das dívidas do início do ano e das responsabilidades, que não deveriam cessar, nem no feriado.
Mas voltemos ao Carnaval, voltemos à literatura! Unamos os dois temas. Reiteremos então a carnavalização. Não poderíamos deixar de citar as escolas de samba que, nas letras das músicas, aludiram ao tema literatura: a Acadêmicos do Tucuruvi fez uma homenagem às crianças com seus sonhos e mazelas. Além das brincadeiras do universo infantil, citou personagens do universo literário e do imaginário cultural, como Bicho-papão, castelo encantado, duendes, fadas, super-heróis. A Rosas de ouro, tratando do tema inesquecível, também alegorizou personagens que ficaram e ficam marcados na memória de adultos e crianças, como a Turma da Mônica e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. As alas que acompanharam a alegoria mostraram as noites do terror, referindo-se a monstros como o Drácula, lendas urbanas e até o personagem Chucky, o brinquedo assassino. O ator José Mojica Marins, que deu vida ao personagem Zé do Caixão, e vários contos de terror também fizeram parte da alegoria. O Bicho-papão também foi citado no enredo. A Pérola Negra este ano abordou o tema felicidade e, em certo momento, recorreu à literatura infantil, mais especificamente a vários tipos de felicidade, entre elas, a ala "Compramos a felicidade?" a qual trouxe integrantes fantasiados do personagem avarento Tio Patinhas, de Walt Disney, com calculadoras nas fantasias. Tal ala nos alude que dinheiro também traz felicidade, desde que o que se queira comprar esteja à venda, não é mesmo dileto leitor? A X-9 Paulistana destacou os momentos de insanidade e de delírio que marcaram a história da humanidade. Mais uma vez, uma recorrência à literatura, por meio do Menino Maluquinho, personagem clássico, de Ziraldo e da personagem de Alice no País das Maravilhas, com um castelo de ponta-cabeça. Muita loucura, alegria e harmonia bem organizadas na avenida.
Terminamos citando a tricampeã. No ano passado, em 2013, a Mocidade Alegre trouxe os clássicos infantis para a avenida. Ao abordar o tema sedução, a escola fez inúmeras referências aos contos infantis. O Lobo Mau ficou camarada, a chapeuzinho sedutora, a bruxa boazinha. A escola de samba trouxe uma ruptura nos desfechos desses contos e foi campeã aqui em São Paulo. Neste ano, o tema, da mesma escola, foi a fé e suas nuances, em várias alegorias. Um desfile repleto de religiosidade e misticismo, mostrou a fé de judeus a benzedeiras. A escola provou que a crença, com muito esforço e competência, funciona.
O termo “alegoria”, muito presente neste artigo, também aparece como metáfora. Teremos um artigo só sobre isso, no qual retomaremos “parábolas”, “fábulas” e os símbolos culturais como Páscoa e lendas! Até lá!
Daniella Barbosa Buttler: possui doutorado pela PUC-SP e é professora no Colégio Humboldt – Deutsche Schule e no Centro Universitário SENAC daniellabar@gmail.com.br
Neste presente texto não teceremos as críticas que o tema também desperta, pois isso renderia um texto dissertativo sobre economia, alienação, perigos, gravidez, banheiros químicos insuficientes nos blocos de carnaval, moradores "ilhados", por não terem sido avisados de que haveria carnaval de rua; proximidades do sambódromo cobertas de lixo.
Trataremos desse tema aqui, mas sobre o enfoque literário. Acreditem, esse termo "carnaval, é também correspondente à literatura. Já tratamos aqui do tema intertextualidade, relação entre textos, bem como dos itens "citação", "paráfrase", "paródia", “polêmica", "estilização", que são formas como esses textos se relacionam... “Carnavalização”, mais especificamente, corresponde, segundo o teórico Affonso Romano de Sant’Anna, a “uma forma de estudar os textos literários e mesmo a cultura de um povo, procurando os efeitos cômicos e parodísticos que mostram como a comédia pode revelar alguns traços do inconsciente social”. O autor acrescenta, ainda, na mesma obra, Paródia, paráfrase & Cia que “Através do estudo das máscaras, do grotesco, do riso das antíteses entre vida e morte, religião e festa, violência e orgia, inverno e primavera, carnaval e quaresma, pode-se estudar a dialética da própria vida”. Por isso acreditamos que nossas reflexões, que ora citam o chamado “popular”, ora citam o chamado “erudito”, sejam pertinentes, pois é possível, se não refletir sobre a literatura e sociedade, refletir sobre a vida.
Não à toa o Carnaval antecede a Quaresma como a despedida do que é proibido; não à toa a hiperbolização (exagero) dos papéis; a hiperbolização da inversão dos papéis, travestindo-se nas fantasias; não à toa a hipérbole na frase de que o ano só começa depois do Carnaval. Claro que o ano começou antes, mas a Quaresma é a retomada da sobriedade... anunciada até mesmo pelo Imposto de Renda e pela continuidade das dívidas do início do ano e das responsabilidades, que não deveriam cessar, nem no feriado.
Mas voltemos ao Carnaval, voltemos à literatura! Unamos os dois temas. Reiteremos então a carnavalização. Não poderíamos deixar de citar as escolas de samba que, nas letras das músicas, aludiram ao tema literatura: a Acadêmicos do Tucuruvi fez uma homenagem às crianças com seus sonhos e mazelas. Além das brincadeiras do universo infantil, citou personagens do universo literário e do imaginário cultural, como Bicho-papão, castelo encantado, duendes, fadas, super-heróis. A Rosas de ouro, tratando do tema inesquecível, também alegorizou personagens que ficaram e ficam marcados na memória de adultos e crianças, como a Turma da Mônica e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. As alas que acompanharam a alegoria mostraram as noites do terror, referindo-se a monstros como o Drácula, lendas urbanas e até o personagem Chucky, o brinquedo assassino. O ator José Mojica Marins, que deu vida ao personagem Zé do Caixão, e vários contos de terror também fizeram parte da alegoria. O Bicho-papão também foi citado no enredo. A Pérola Negra este ano abordou o tema felicidade e, em certo momento, recorreu à literatura infantil, mais especificamente a vários tipos de felicidade, entre elas, a ala "Compramos a felicidade?" a qual trouxe integrantes fantasiados do personagem avarento Tio Patinhas, de Walt Disney, com calculadoras nas fantasias. Tal ala nos alude que dinheiro também traz felicidade, desde que o que se queira comprar esteja à venda, não é mesmo dileto leitor? A X-9 Paulistana destacou os momentos de insanidade e de delírio que marcaram a história da humanidade. Mais uma vez, uma recorrência à literatura, por meio do Menino Maluquinho, personagem clássico, de Ziraldo e da personagem de Alice no País das Maravilhas, com um castelo de ponta-cabeça. Muita loucura, alegria e harmonia bem organizadas na avenida.
Terminamos citando a tricampeã. No ano passado, em 2013, a Mocidade Alegre trouxe os clássicos infantis para a avenida. Ao abordar o tema sedução, a escola fez inúmeras referências aos contos infantis. O Lobo Mau ficou camarada, a chapeuzinho sedutora, a bruxa boazinha. A escola de samba trouxe uma ruptura nos desfechos desses contos e foi campeã aqui em São Paulo. Neste ano, o tema, da mesma escola, foi a fé e suas nuances, em várias alegorias. Um desfile repleto de religiosidade e misticismo, mostrou a fé de judeus a benzedeiras. A escola provou que a crença, com muito esforço e competência, funciona.
O termo “alegoria”, muito presente neste artigo, também aparece como metáfora. Teremos um artigo só sobre isso, no qual retomaremos “parábolas”, “fábulas” e os símbolos culturais como Páscoa e lendas! Até lá!
Daniella Barbosa Buttler: possui doutorado pela PUC-SP e é professora no Colégio Humboldt – Deutsche Schule e no Centro Universitário SENAC daniellabar@gmail.com.br
Ivete Irene dos Santos: Mestre, pesquisadora e professora nas áreas Letras, Educação e Tecnologias (Universidade Presbiteriana Mackenzie). www.ivetando.pro.br;