sábado, 13 de julho de 2013

Literatura para quê?
Tentar convencer alguém sobre a importância da literatura nesta sociedade consumista e capitalista é difícil, principalmente se levarmos em consideração as classificações apresentadas em obras sobre o tema. Em uma falsa contraposição aos textos utilitários (não-literários), a literatura é classificada como arte, mas também como não-utilitária. Texto sem utilidade, então?
    A palavra literatura vem do latim “litteris” e significa letras, por isso se associa à gramática, à retórica e a texto. Porém, não se pode pensar ingenuamente que tudo é literatura: nem todo texto  e nem todo livro publicados são de caráter literário. Definir literatura é difícil porque se trata de um conceito histórico. Se antes a literatura era feita de composições predominantemente orais e em versos, seguindo uma estrutura formal de acordo com critérios estabelecidos desde a antiguidade, nos últimos séculos sofreu uma evolução, aceitando novos gêneros e moldando-se à criação de novos meios de veiculação, como a internet. Podemos resumir que literatura é a arte da escrita em que o mais importante é o “como” se diz e não “o que” se diz. Para muitos  escritores,  a função da literatura é a do deleite. É verdade! Quem não gosta de contemplar o belo? E não significa que a literatura fale só do que é bonito, mas fala de maneira bonita sobre coisas, fatos, pessoas,  inquietudes,  alegrias e tristezas humanas. A  estética é importante. Mas essa não é a única função.
      A literatura também tem a função comunicativa: busca uma interação entre interlocutores de épocas diferentes, e  a função cognitiva, já que a literatura sempre  ensina algo mesmo quando isso não é o compromisso (e não deve ser mesmo esse o objetivo), seja por retratar, contrapor, romper os paradigmas ao que chamamos de realidade. Por exemplo, ao lermos um livro do Machado de Assis, aprendemos sobre o gosto, os valores, os costumes das pessoas daquela época. Uma fábula, narrativa com personagens animais apresentando moralidades explícitas no texto, também nos permite várias leituras. Quem não conhece uma versão da “Cigarra e a formiga”? Podemos lê-la presos ao enredo, como uma estória de dois insetos, ou como metáforas de seres humanos, ou como metáforas de uma época, ou ainda como metáforas de nós mesmos, nos dois papéis e conflitos: “quando ser formiga, quando ser cigarra?” Por isso, esse e outros textos sobrevivem por séculos, pois ainda falam à essência do ser humano.
     Há ainda as funções político-social e humanizadora já que de uma forma ou de outra  desenvolve um projeto transformador na sociedade. Citemos o livro “1984”, de George Orwel, cujas vendas dispararam no mês passado. Isso ocorreu devido ao esquema de monitoramento de dados realizado nos Estados Unidos. George Orwell foi um visionário: na ficção escrita décadas antes, a sociedade era  vigiada e controlada pelo personagem Big Brother!
      Existem  sim várias formas de conhecer a realidade, mas a literatura  pode nos oferecer elementos para entender esse mundo complexo, envolvendo-nos ou distanciando-nos dele por meio de enredos  mais realistas ou mais fantásticos. Em meio às discussões sob a humanização de máquina, sob que paradigma você lê “Pinóquio”? Ou até mesmo “João e Maria”? “Cinderela”? Citamos essas obras consideradas pertencentes à literatura infantil para ratificar: o próprio conceito de literatura muda com o tempo, por isso uma obra  lida por diferentes leitores, ou em diferentes momentos, pode proporcionar diferentes leituras.
    Temos o privilégio de ter escritores da região inscritos na história da literatura nacional: Paulo Eiró, poeta do Romantismo, cuja biografia, sucinta nas poesias, parece uma ficção; e  José Paulo Paes, escritor da terceira fase do Modernismo, que encantou adultos e crianças com seu poetar, e cita em seu livro Quem eu? sua estada em  Santo Amaro, lugar que adotou para morar. E eles deixaram herdeiros...
    Nós, moradores da Zona Sul de São Paulo, temos a honra de ter um escritor em nossa região: Olívio Jekupê, que revisita a estória do Saci, mostrando a versão (verdadeira) indígena. Ele foi convidado pela FLIPinha a mostrar seu trabalho e a palestrar junto com Ricardo Ramos, neto de Graciliano Ramos. E há outros escritores da aldeia Krukutu, em Parelheiros, como Maria Kerexu, Luiz Carlos Karai, Jeguaka Mirin, Tupa Mirin, Jera Gisela, todos autores guarani.
     Temos, também em Santo Amaro, os cordelistas Moreira de Acopiara,  Varneci e  Pedro Monteiro, todos com livros publicados. Há as escritoras  Leda Kraml  que escreveu sobre a Granja Julieta e Isaura Camila Borges e Castro, uma lusitana santamarense. Sem deixar de citar os contadores de história e escritores como a Andrea Sousa, Robson Sousa e João Luiz do Couto e outros artistas da palavra que vamos descobrindo ou redescobrindo nas casas de cultura, nos eventos, nas bibliotecas, nos sites... Todos amantes e divulgadores da literatura. Para quê? Para alimentar a imaginAÇÃO! (Daniella Barbosa e Ivete Irene dos Santos)
Edição 2724 - 13 a 19 de Julho 2013- LITERATURA PARAQUÊ?



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