sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PROFESSORES E MÉDICOS DE CORPO E ALMA!


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Edição 2739 - 26 de Outubro a 01 de Novembro de 2013

 


Na semana anterior, duas datas significativas para mim ocorreram: o dia do professor e o dia do médico. Não abordarei aqui as polêmicas em torno dos temas educação e  saúde, tratarei dos temas mais subjetivamente.
A primeira data tornou-se  significativa antes mesmo da minha escolha profissional. É chavão, mas bem resume o comentário “você pode ser advogado, psicológica, médico, dentista... mas para tudo isso precisou/precisará de um professor”. Como aluna, tive a abertura ao mundo, o ensino foi uma janela, como na frase “Vais encontrar o mundo”, do livro O Ateneu, de Raul Pompeia.
            Já cheguei à escola alfabetizada pelo meu pai que comprara a cartilha na feira e rotineiramente me tomava as soletrações e a tabuada. Rígido, não permitia erros nem divagações. Foi na escola, pela professora, que tive despertada a curiosidade. Certa vez assistindo a um episódio Taken, uma série sobre extraterrestres, dei-me conta que fui felizarda, pois  a personagem mirim e precoce conhece um professor e relata sua desilusão com a escola, pois chegou à instituição cheia de curiosidades, mas pouco depois estava sendo podada.
Sei que há bons e maus profissionais, e em todas as áreas.  Ressalto aqui os bons e aqueles que me inspiram até hoje. Não gosto de associar a escolha profissional a um sacerdócio, sobretudo porque descaracteriza a necessidade de  que todos devam ser bem remunerados. Como educadora, acredito que a aptidão e as habilidades possam ser desenvolvidas e despertadas.
Foi com a Azuba que tive meu contato com as fábulas, com o teatro: ela fazia além do que as cartilhas propunham. Na quarta-série, com a professora Rita, escrevi meu primeiro poema sobre o eclipse. Na sexta-série, com a professora Aureni, não só líamos livros de gramática, escrevemos e criamos nosso próprio livro e exercícios, e trocávamos: éramos autores e leitores. Tive vários bons professores no antigo ginásio que reforçaram o meu interesse em ser professora.
 Cursei CEFAM Interlagos, Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério.Tive a oportunidade de experienciar a profissão como estagiária. Conheci uma professora que marcou muito minha formação: Marisa Neves, sempre me incentivando a escrever: era minha leitora não só das atividades escolares, mas de meus rascunhos artísticos. Em uma das conversas me ajudou a escolher e delimitar ainda mais minha profissão. Eu sonhava entrar na USP, em Letras, muitos me desanimavam: “Jamais estudará lá!”; Ela, ao contrário, dizia: “És capaz de entrar!” Anos depois,  tornamo-nos colegas de disciplina de pós-graduação, alunas em um curso. Chegamos a lecionar juntas na mesma faculdade e o que era mais generoso era ver a alegria  dela pelo que eu tinha me tornado, sem buscar a autoria: ela era uma das responsáveis pelo meu sucesso pessoal.
Lecionei em vários cursos de Letras e Pedagogia e, numa corrente em que se repete o que foi aprendido, fico feliz com a semeadura: encontro meus professores,  a voz deles ecoam em mim, e eu ressoo nas voz de ex-alunos que hoje são colegas de profissão.  No fazer o que é obrigatório talvez não haja mérito, é apenas um bom trabalho, mas há pessoas que fazem além,  em todas as profissões. Por um problema de saúde tenho convivido muito em clínicas, laboratórios e hospitais.
Não é fácil receber um diagnóstico de doença, sobretudo quando a elas está associada uma sentença de morte. “Neoplasias”, “hepatopatias” e algumas "ites", nomes que assustam até mesmo aqueles que adoram estudar a semântica e a etimologia. Nem sempre os eufemismos amenizam a preocupação,
mas alguns têm a sorte de se deparar com médicos que em vez de focalizarem a doença, focalizam a saúde e tornam a caminhada mais amena e possível, mostrando que todos têm suas limitações, seus pontos nevrálgicos. Não que estejam ignorando o sofrimento, mas ajudam a enxergar que “apesar de”, é sim possível viver.
Nessa minha caminhada alguns têm ajudado, no papel de médico, a carregar a bagagem. Há, portanto, médicos de corpos e de alma,  assim como há professores de conteúdo e de vida.

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