sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Crônica VERBO DAR E OUTROS TERMOS VICÁRIOS

                                                                       fonte:http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=84
 
Caro leitor, na crônica anterior apresentei uma palavra no título que não é muito adequada para um contexto formal. Você notou? “Coisa” é considerado um termo vicário, ou seja, substituto, “termo genérico”, pois “cabe” em diferentes contextos. Esse era o objetivo do título:  generalizar.
Outros termos considerados vicários são os verbos “fazer” e “dar”. Você já notou que eles apresentam, sozinhos  ou associados a outros termos, vários usos? Consultando um bom dicionário, encontram-se várias acepções. Exemplificarei:
O homem deu uma ajuda; O feirante deu-me meio quilo de uvas, O patrão deu o aumento esperado; Davam tudo para conseguir salvar a filha; É ele quem as cartas na empresa; Deu na televisão que amanhã será o dia mais quente do ano;  A enfermeira deu-lhe dois comprimidos; Deu-me um dor no estômago ao olhar a madeira que deu bicho; O relatório deu mais de 50 páginas; Um e um dão dois;  A namorada deu um beijo apaixonado; Demos um susto no amigo; Isso me dor de cabeça; O filme sono; O casamento deu-se ontem; Ele precisa dar um impulso na carreira, para dar mais lucros. Não precisa nos dar explicações; Antes de darem oito horas, voltarei; Ninguém deu ordem aos prisioneiros; Os móveis não dão na sala; Os bandidos deram azar: deram-se mal. Há muitos outras acepções do verbo “dar”, entre elas a conotação sexual,  nem sempre validadas pela norma culta, mas validadas pelos falantes.
Se em algumas situações  essa pluralidade de sentidos pode ser considerada uma riqueza da língua e ser um recurso intencional para criar trocadilhos ou ambiguidades, em outros contextos pode sugerir uma carência vocabular: a falta de conhecimento de palavras  mais expressivas e precisas, ou seja, não genéricas. As expressões “dar aulas”, “dar o presente”, “dar instruções”, “dar informações”, “dar gratificações”, por exemplo, poderiam ser substituídas respectivamente por “lecionar”, “presentear”, “instruir”, “informar”, “gratificar”. Proponho uma atividade: releia as frases do parágrafo anterior e parafraseie-as.
Se não der para fazer agora, tomara que tempo entre as comemorações de fim de ano. Aproveito para finalizar a coluna dando votos de Boas festas!
 
Edição 2697 – 21 a 27 de dezembro de 2012-página 12 - http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=84



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crônica O nome das coisas


 
Será impossível comentar os significados das palavras e não comentar como professores foram importantes para despertar a paixão por elas. Lembro-me, enquanto escrevo este texto, da professora Aureni, professora de Língua Portuguesa da quinta série. Ela explicava a poesia contida na palavra, e não só as palavras contidas na poesia.  Já no Ensino Médio, tive outra professora marcante: Marisa Neves, que me ajudou a decidir na escolha da  faculdade: Letras, para continuar conversando com as palavras. E assim eu relia e ressignificava textos já conhecidos.
A Bíblia, tomada como fonte religiosa ou literária, explica: ao homem coube nomear as coisas. Embora o nome não tenha que ter  relação com a coisa nomeada, passa a ter, pelo uso, pela história, pelo discurso,  relação com a cultura. Por que maçã do rosto e não laranja do rosto?  Você  já pensou que “enfezado” tem a mesma raiz da palavra “fezes” ?
            Os termos “desorientado”, “desnorteado”, revelam  o destino  das navegações:  era preciso saber para onde se ia, ou para onde se  tinha que voltar. A importância das navegações também é sugerida no verbo “embarcar”. Durante  séculos, “embarcação”   era um dos poucos meios de transportes existentes, hoje quem pode, embarca no avião, no trem, no ônibus, no carro...
Referir-se a um pré-adolescente como “guri”, “piá”, “moleque”, “garoto” acaba revelando a  origem do enunciador ou do ser descrito.  “Idoso”, “na melhor idade”, “velho”, não são sinônimos perfeitos, como não são equivalentes   “broto”, “mina”, “gata”, “moçoila”, “senhorita”.
As referências aos relacionamentos também sofrem transformações: “namorido”, “peguete”, “fiquete”  são neologismos que compõe o vocabulário de jovens.
            Mas a língua pode  revelar outros aspectos: a integração de culturas. Como apresentado em colunas anteriores, “capoeira”, embora usado para designar uma luta da cultura africana, é um termo indígena.
Vários vocábulos revelam a nossa raiz indígena, ainda que abafada ou despercebida, se o nome  Brasil é  devido à planta “pau Brasil”, para muitos indígenas, este país era “Pindorama”, terra das palmeiras. Outros termos indígenas integram nosso vocabulário: “Ibirapuera” significa "madeira podre", “Pacaembu” é “arroio das pacas”; “Morumbi” é  “morro ou colina muito alta” ou ainda “mosca verde”, para outros etimologistas;  “Jabaquara” significa rocha",  "buraco",  "lugar dos refugiados";  “Moema”, personagem imortalizada por José de Alencar e nome de bairro,  significa “mentira”, falsidade" .
A consulta a  bons dicionários faz, se não a história, o significado de alguns outros termos que nomeiam bairros: “Congonhas” é  “planta da mesma família do mate”;  “Grajáu”, é  “cesto oblongo”. “Interlagos” significa  “entre lagos” ( Embora  se esteja  entre represas, o nome é sonoramente mais expressivo). O nome “Parelheiros” vem do costume germânico de fazer corridas com um tipo de carroças puxadas por parelhas de cavalos.
Os imigrantes contribuíram com a cultura e, consequentemente, com a inserção de termos que passaram a integrar a língua portuguesa, inclusive com nomes próprios. Temos, por exemplo,  simultaneamente John, João, Ivan, Hans, Jean e Jonas.
E em se tratando de nomes até eles sofrem influência da moda, tornando-se carregados de simbologia. O nome não é a própria coisa, mas quem já não pensou que se tivesse outro nome seria outra pessoa?
 

REVISTAEI artigo Desvelando as representações

 
DESVELANDO AS REPRESENTAÇÕES
Daniella Barbosa Buttler e Ivete Irene dos Santos
 
 
O ambiente humano empreende a criança numa rede de representações sociais e linguísticas, por isso um mesmo fato pode ter representações diversas, ainda que de forma sutil...
 
 
 
 

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