sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crônica O nome das coisas


 
Será impossível comentar os significados das palavras e não comentar como professores foram importantes para despertar a paixão por elas. Lembro-me, enquanto escrevo este texto, da professora Aureni, professora de Língua Portuguesa da quinta série. Ela explicava a poesia contida na palavra, e não só as palavras contidas na poesia.  Já no Ensino Médio, tive outra professora marcante: Marisa Neves, que me ajudou a decidir na escolha da  faculdade: Letras, para continuar conversando com as palavras. E assim eu relia e ressignificava textos já conhecidos.
A Bíblia, tomada como fonte religiosa ou literária, explica: ao homem coube nomear as coisas. Embora o nome não tenha que ter  relação com a coisa nomeada, passa a ter, pelo uso, pela história, pelo discurso,  relação com a cultura. Por que maçã do rosto e não laranja do rosto?  Você  já pensou que “enfezado” tem a mesma raiz da palavra “fezes” ?
            Os termos “desorientado”, “desnorteado”, revelam  o destino  das navegações:  era preciso saber para onde se ia, ou para onde se  tinha que voltar. A importância das navegações também é sugerida no verbo “embarcar”. Durante  séculos, “embarcação”   era um dos poucos meios de transportes existentes, hoje quem pode, embarca no avião, no trem, no ônibus, no carro...
Referir-se a um pré-adolescente como “guri”, “piá”, “moleque”, “garoto” acaba revelando a  origem do enunciador ou do ser descrito.  “Idoso”, “na melhor idade”, “velho”, não são sinônimos perfeitos, como não são equivalentes   “broto”, “mina”, “gata”, “moçoila”, “senhorita”.
As referências aos relacionamentos também sofrem transformações: “namorido”, “peguete”, “fiquete”  são neologismos que compõe o vocabulário de jovens.
            Mas a língua pode  revelar outros aspectos: a integração de culturas. Como apresentado em colunas anteriores, “capoeira”, embora usado para designar uma luta da cultura africana, é um termo indígena.
Vários vocábulos revelam a nossa raiz indígena, ainda que abafada ou despercebida, se o nome  Brasil é  devido à planta “pau Brasil”, para muitos indígenas, este país era “Pindorama”, terra das palmeiras. Outros termos indígenas integram nosso vocabulário: “Ibirapuera” significa "madeira podre", “Pacaembu” é “arroio das pacas”; “Morumbi” é  “morro ou colina muito alta” ou ainda “mosca verde”, para outros etimologistas;  “Jabaquara” significa rocha",  "buraco",  "lugar dos refugiados";  “Moema”, personagem imortalizada por José de Alencar e nome de bairro,  significa “mentira”, falsidade" .
A consulta a  bons dicionários faz, se não a história, o significado de alguns outros termos que nomeiam bairros: “Congonhas” é  “planta da mesma família do mate”;  “Grajáu”, é  “cesto oblongo”. “Interlagos” significa  “entre lagos” ( Embora  se esteja  entre represas, o nome é sonoramente mais expressivo). O nome “Parelheiros” vem do costume germânico de fazer corridas com um tipo de carroças puxadas por parelhas de cavalos.
Os imigrantes contribuíram com a cultura e, consequentemente, com a inserção de termos que passaram a integrar a língua portuguesa, inclusive com nomes próprios. Temos, por exemplo,  simultaneamente John, João, Ivan, Hans, Jean e Jonas.
E em se tratando de nomes até eles sofrem influência da moda, tornando-se carregados de simbologia. O nome não é a própria coisa, mas quem já não pensou que se tivesse outro nome seria outra pessoa?
 

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