sábado, 20 de julho de 2013

Artigo Reescrita e releituras!

 
Com certeza, caro leitor, alguma vez ao ler um texto, assistir a um filme, novela ou peça, ou até mesmo ao ouvir uma música, você já teve a sensação de conhecer a estória, mesmo que ela não tenha no título ou no enredo uma explícita relação com outra obra.
Em tempos de muitas produções, é difícil falar em autenticidade de ideias ou palavras. Uma música do grupo Legião urbana proclama “sei que às vezes uso, palavras repetidas, mas quais são as palavras, que nunca são ditas?”.
    Durante nossa vida adquirimos muitos conhecimentos por meio de vivências como viagens, leituras, filmes, peças teatrais, visitas a museus, estórias e experiências contadas por outras pessoas  etc. Esse conjunto de conhecimentos, ao qual se domina, repertório cultural, tem um papel decisivo na leitura, na produção e na interpretação de textos. Assim, quanto maior é o repertório cultural do leitor, mais bem preparado ele está para ler com profundidade os diferentes textos que circulam socialmente e perceberá as relações entre eles, que teoricamente denomina-se intertextualidade.
    Retomemos o exemplo do Legião urbana: o filme Faroeste cabloco e Somos tão jovens. O primeiro, um desenvolvimento da música homônima; o segundo, um filme que não é biografia ou documentário, ao qual  tomamos a liberdade de considerar “ficcionalização da biografia do grupo”, no estilo de outras produções: Lula, o filho do Brasil; Cazuza; Os dois filhos de Francisco, pois se consideramos que há seleção do “como dizer”, do “como contar”, é uma recriação da realidade, uma “literarização da realidade”, como fez tão bem , por exemplo, Manuel Bandeira no Poema tirado de uma notícia de jornal e no poema Pneumotórax; ou poema Infância ou poemas sobre Itabira, de Carlos Drummond de Andrade,  só para citar dois poetas que relemos hoje, antes de rascunharmos esse texto.
     Alguns livros viram filmes, alguns filmes viram livros. Nós mesmas já compramos vários roteiros ou conhecemos a obra narrativa depois de assistir ao filme: Verônika decide morrer; Comer, rezar, amar; Crônicas de Nárnia; Harry Porter; Jogos vorazes entre outros.
     Listemos outras obras e produções brasileiras: o filme Meu pé de laranja lima, do livro de José de Vasconcelos, filmado em 1970 e refilmado no ano passado e ainda em cartaz em alguns cinemas. O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, apresenta intertextualidade com as obras de Gil Vicente e numa leitura mais atenta, com O Mercador de Veneza, de Shakespeare. Intertextualidade com Shakespeare também aparece na novela O cravo e a rosa em  semelhanças com A megera domada,  e em todos os enredos em que personagens de famílias inimigas se apaixonam, pois logo associamos ao amor de Romeu e Julieta (obra que por sua vez, se assemelha  a uma estória grega muito mais antiga: Píramo e Tisbe).
     Aqui na zona sul de São Paulo, temos algumas peças sendo exibidas em teatros e bibliotecas da região, como “Sonho de uma noite de São João.... quer dizer: Verão!”, cujo título mostra explicitamente a relação com a obra de William Shakespeare. “Um dedinho de prosa”, que nos faz lembrar da expressão popular. O enredo é contado pelo contador de causos Professor Robson Santos. E ainda temos a peça “A volta ao mundo em 80 dias”, um espetáculo baseado na obra literária do Julio Verne.
     A lista de citações está enorme, professoras,  em tempo de férias, além de mais atenção à família, fazemos o que mais gostamos: leituras,  visitas a sebos, idas a cinema, visita a bibliotecas,  organização dos livros e DVDs, zapping pela TV com olhar atento às intertextualidades e, como na sobreposição de páginas de interrnet, uma obra leva a outra... e assim, mesmo obras já lidas são ressignificadas em novas leituras, sobretudo com os feedbacks que recebemos por e-mails dos leitores que também compartilham suas produções, leituras e experiências... e novas leituras, ressignificam a vida!
 
Texto REESCRITAS E RELEITURAS (Daniella Barbosa e Ivete Irene do Santos)
 

sábado, 13 de julho de 2013

Literatura para quê?
Tentar convencer alguém sobre a importância da literatura nesta sociedade consumista e capitalista é difícil, principalmente se levarmos em consideração as classificações apresentadas em obras sobre o tema. Em uma falsa contraposição aos textos utilitários (não-literários), a literatura é classificada como arte, mas também como não-utilitária. Texto sem utilidade, então?
    A palavra literatura vem do latim “litteris” e significa letras, por isso se associa à gramática, à retórica e a texto. Porém, não se pode pensar ingenuamente que tudo é literatura: nem todo texto  e nem todo livro publicados são de caráter literário. Definir literatura é difícil porque se trata de um conceito histórico. Se antes a literatura era feita de composições predominantemente orais e em versos, seguindo uma estrutura formal de acordo com critérios estabelecidos desde a antiguidade, nos últimos séculos sofreu uma evolução, aceitando novos gêneros e moldando-se à criação de novos meios de veiculação, como a internet. Podemos resumir que literatura é a arte da escrita em que o mais importante é o “como” se diz e não “o que” se diz. Para muitos  escritores,  a função da literatura é a do deleite. É verdade! Quem não gosta de contemplar o belo? E não significa que a literatura fale só do que é bonito, mas fala de maneira bonita sobre coisas, fatos, pessoas,  inquietudes,  alegrias e tristezas humanas. A  estética é importante. Mas essa não é a única função.
      A literatura também tem a função comunicativa: busca uma interação entre interlocutores de épocas diferentes, e  a função cognitiva, já que a literatura sempre  ensina algo mesmo quando isso não é o compromisso (e não deve ser mesmo esse o objetivo), seja por retratar, contrapor, romper os paradigmas ao que chamamos de realidade. Por exemplo, ao lermos um livro do Machado de Assis, aprendemos sobre o gosto, os valores, os costumes das pessoas daquela época. Uma fábula, narrativa com personagens animais apresentando moralidades explícitas no texto, também nos permite várias leituras. Quem não conhece uma versão da “Cigarra e a formiga”? Podemos lê-la presos ao enredo, como uma estória de dois insetos, ou como metáforas de seres humanos, ou como metáforas de uma época, ou ainda como metáforas de nós mesmos, nos dois papéis e conflitos: “quando ser formiga, quando ser cigarra?” Por isso, esse e outros textos sobrevivem por séculos, pois ainda falam à essência do ser humano.
     Há ainda as funções político-social e humanizadora já que de uma forma ou de outra  desenvolve um projeto transformador na sociedade. Citemos o livro “1984”, de George Orwel, cujas vendas dispararam no mês passado. Isso ocorreu devido ao esquema de monitoramento de dados realizado nos Estados Unidos. George Orwell foi um visionário: na ficção escrita décadas antes, a sociedade era  vigiada e controlada pelo personagem Big Brother!
      Existem  sim várias formas de conhecer a realidade, mas a literatura  pode nos oferecer elementos para entender esse mundo complexo, envolvendo-nos ou distanciando-nos dele por meio de enredos  mais realistas ou mais fantásticos. Em meio às discussões sob a humanização de máquina, sob que paradigma você lê “Pinóquio”? Ou até mesmo “João e Maria”? “Cinderela”? Citamos essas obras consideradas pertencentes à literatura infantil para ratificar: o próprio conceito de literatura muda com o tempo, por isso uma obra  lida por diferentes leitores, ou em diferentes momentos, pode proporcionar diferentes leituras.
    Temos o privilégio de ter escritores da região inscritos na história da literatura nacional: Paulo Eiró, poeta do Romantismo, cuja biografia, sucinta nas poesias, parece uma ficção; e  José Paulo Paes, escritor da terceira fase do Modernismo, que encantou adultos e crianças com seu poetar, e cita em seu livro Quem eu? sua estada em  Santo Amaro, lugar que adotou para morar. E eles deixaram herdeiros...
    Nós, moradores da Zona Sul de São Paulo, temos a honra de ter um escritor em nossa região: Olívio Jekupê, que revisita a estória do Saci, mostrando a versão (verdadeira) indígena. Ele foi convidado pela FLIPinha a mostrar seu trabalho e a palestrar junto com Ricardo Ramos, neto de Graciliano Ramos. E há outros escritores da aldeia Krukutu, em Parelheiros, como Maria Kerexu, Luiz Carlos Karai, Jeguaka Mirin, Tupa Mirin, Jera Gisela, todos autores guarani.
     Temos, também em Santo Amaro, os cordelistas Moreira de Acopiara,  Varneci e  Pedro Monteiro, todos com livros publicados. Há as escritoras  Leda Kraml  que escreveu sobre a Granja Julieta e Isaura Camila Borges e Castro, uma lusitana santamarense. Sem deixar de citar os contadores de história e escritores como a Andrea Sousa, Robson Sousa e João Luiz do Couto e outros artistas da palavra que vamos descobrindo ou redescobrindo nas casas de cultura, nos eventos, nas bibliotecas, nos sites... Todos amantes e divulgadores da literatura. Para quê? Para alimentar a imaginAÇÃO! (Daniella Barbosa e Ivete Irene dos Santos)
Edição 2724 - 13 a 19 de Julho 2013- LITERATURA PARAQUÊ?



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