Com
certeza, caro leitor, alguma vez ao ler um texto, assistir a um filme, novela
ou peça, ou até mesmo ao ouvir uma música, você já teve a sensação de conhecer
a estória, mesmo que ela não tenha no título ou no enredo uma explícita relação
com outra obra.
Em
tempos de muitas produções, é difícil falar em autenticidade de ideias ou
palavras. Uma música do grupo Legião
urbana proclama “sei que às vezes
uso, palavras repetidas, mas quais são as palavras, que nunca são ditas?”.
Durante
nossa vida adquirimos muitos conhecimentos por meio de vivências como viagens,
leituras, filmes, peças teatrais, visitas a museus, estórias e experiências
contadas por outras pessoas etc. Esse
conjunto de conhecimentos, ao qual se domina, repertório
cultural, tem um papel decisivo na leitura, na produção e na interpretação de
textos. Assim, quanto maior é o repertório cultural do leitor, mais bem
preparado ele está para ler com profundidade os diferentes textos que circulam
socialmente e perceberá as relações entre eles, que teoricamente denomina-se
intertextualidade.
Retomemos
o exemplo do Legião urbana: o filme Faroeste cabloco e Somos tão jovens. O primeiro, um desenvolvimento da música
homônima; o segundo, um filme que não é biografia ou documentário, ao qual tomamos a liberdade de considerar
“ficcionalização da biografia do grupo”, no estilo de outras produções: Lula, o filho do Brasil; Cazuza; Os dois filhos de Francisco,
pois se consideramos que há seleção do “como dizer”, do “como contar”, é uma
recriação da realidade, uma “literarização da realidade”, como fez tão bem ,
por exemplo, Manuel Bandeira no Poema
tirado de uma notícia de jornal e no poema Pneumotórax; ou poema Infância ou poemas sobre Itabira, de
Carlos Drummond de Andrade, só para
citar dois poetas que relemos hoje, antes de rascunharmos esse texto.
Alguns
livros viram filmes, alguns filmes viram livros. Nós mesmas já compramos vários
roteiros ou conhecemos a obra narrativa depois de assistir ao filme: Verônika decide morrer; Comer, rezar, amar; Crônicas de Nárnia;
Harry Porter; Jogos vorazes entre
outros.
Listemos
outras obras e produções brasileiras: o filme Meu pé de laranja lima, do livro de José de Vasconcelos, filmado em
1970 e refilmado no ano passado e ainda em cartaz em alguns cinemas. O auto da compadecida, de Ariano Suassuna,
apresenta intertextualidade com as obras de Gil Vicente e numa leitura mais
atenta, com O Mercador de Veneza, de
Shakespeare. Intertextualidade com Shakespeare também aparece na novela O cravo e a rosa em semelhanças com A megera domada, e em todos
os enredos em que personagens de famílias inimigas se apaixonam, pois logo
associamos ao amor de Romeu e Julieta (obra que por sua vez, se assemelha a uma estória grega muito mais antiga: Píramo
e Tisbe).
Aqui na
zona sul de São Paulo, temos algumas peças sendo exibidas em teatros e
bibliotecas da região, como “Sonho de uma
noite de São João.... quer dizer: Verão!”, cujo título mostra
explicitamente a relação com a obra de William Shakespeare. “Um dedinho de prosa”, que nos faz lembrar da expressão popular. O
enredo é contado pelo contador de causos Professor Robson Santos. E ainda temos
a peça “A volta ao mundo em 80 dias”,
um espetáculo baseado na obra literária do Julio Verne.
A
lista de citações está enorme, professoras,
em tempo de férias, além de mais atenção à família, fazemos o que mais
gostamos: leituras, visitas a sebos,
idas a cinema, visita a bibliotecas,
organização dos livros e DVDs, zapping pela TV com olhar atento às
intertextualidades e, como na sobreposição de páginas de interrnet, uma obra
leva a outra... e assim, mesmo obras já lidas são ressignificadas em novas
leituras, sobretudo com os feedbacks
que recebemos por e-mails dos leitores que também compartilham suas produções,
leituras e experiências... e novas leituras, ressignificam a vida!
Texto REESCRITAS E RELEITURAS (Daniella Barbosa e Ivete
Irene do Santos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário