sábado, 30 de novembro de 2013

Crônica Cartas em tempo de internet

 
Caro leitor, há quanto tempo você não escreve uma carta? Se você tiver menos de vinte anos de idade, talvez a sua última experiência tenha sido na escola.
A pesquisadora Solange Barros, integrante do Laboratório de Estudos em Ética nos Meios Eletrônicos tem divulgado em suas palestras e materiais produzidos  - como os dois livros De bem com a Internet e O uso legal da Internet, disponíveis no link http://www.mackenzie.br/leeme.html -  que as crianças conhecem as cartas em experiências práticas na escola: levam envelopes, escrevem a carta e endereçam-na a um destinatário, portam-se como remetentes. Escrevem, às vezes, neste contexto, como única experiência e como uma experiência única.
Temo, refletindo sobre o tema, que para os nascidos já na época da democratização da internet, e-mails, redes sociais, a carta exista apenas como produção do passado e  referência linguística em “correio eletrônico”.  
Sobre os usuários das tecnologias já há terminologias específicas: os “nativos digitais”, os que nascidos na época do predomínio dessa tecnologia a dominam; os “migrantes digitais”, geração nascida com predomínio de outras tecnologias, mas que fazem uso do computador, da internet; e há aqueles que são alheios a ela: os  “estrangeiros digitais”.  Considero-me uma migrante digital e procuro fazer os bons usos das tecnologias (tema que abordarei em outro artigo) preconizados pelos educadores, filósofos, comunicólogos, psicológicos. 
Penso que as redes sociais podem aproximar pessoas e auxiliar na comunicação, mas também pondero com o filósofo Mario Sergio Cortella:  elas unem o que antes não estava separado.  Não sou negativista, nem apocalíptica, nem saudosista: degusto e presentifico, nessa migração, os recursos anteriores carregados de poeticidade e carinho. Há anos, em um pacto, sobretudo comigo mesma, disciplinei-me a escrever cartas. Tenho uma afilhada que faz aniversário na mesma data em que eu faço e, desde que ela aprendeu a escrever, começamos a trocar correspondências para nos felicitarmos. Isso começou porque cinco anos atrás a internet em Picos, Piauí, onde ela reside, não era tão acessível.
Agora, final de ano, sou motivada a escrever  pelas trocas de cartão, pelo agradecimento aos leitores que enviam cartas ou  livros,  pela escrita de cartas reflexivas sobre o ano que passou e pelos  planos para o ano que começa. Diariamente, correspondo-me com afilhados e amigos usando a  internet, mas tento manter o hábito das velhas e boas correspondências, como registrei, pelo prazer e carinho envolvidos no processo.
Para quem tem a informação em um click, hoje, a demora - dias ou semanas - para uma carta chegar parece uma eternidade. Inacreditável que, há pouco tempo, essa espera era normal e aceitável, pois era o mais rápido que podia ser. Escrevo a carta e tenho que guardar segredo de mim mesma e do destinatário, ou brincar de suspense, pois enquanto a carta viaja, continuo me comunicando por e-mails, redes sociais, telefones...
Por isso mesmo o ato de escrever cartas faz com que as pessoas "pratiquem" outras habilidades, como, por exemplo, a paciência e o controle da ansiedade até mesmo para abrir o envelope.
Esse carinho transpassa a relação entre remetente e destinatário. Tornei-me amiga do carteiro da rua Contos Amazônicos, o Marcos.  Ele sabe de cor o nome dos moradores e, como nós, alegra-se com a entrega de correspondências: quando às vezes o encontro ainda distante de minha rua, questiono “Hoje há mais que contas?” E ele antecipa: “Sim, hoje receberá uma carta!”
Voltemos, então, à pergunta inicial: há quanto tempo não escreve de forma tradicional? Escrita em papel, preenchimento do envelope com remetente e destinatário? Ida ao correio?
EM TEMPO: Continuarei essa temática na próxima edição, pois há muito para tratarmos sobre cartas, cartões, internet... Retomarei, também, o texto anterior, A importância da língua portuguesa no contexto profissional, pois deixei erros: “Ler jornais de textos anteriores revelaM”,  “... às vezes é possível conversar com pessoas com idades diferente( )” e “...como terá passado na seleção, em meio HÁ tantos concorrentes?” . Você percebeu? Precisarei de outro artigo para explicações. Até lá!

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