sábado, 1 de fevereiro de 2014

artigo FÁBULA. Além da moralidade!



 
Caro leitor, continuando as reflexões sobre a literatura universal e a literatura infantojuvenil, comentarei nesse artigo sobre a fábula. Sim, aquele texto que tem por principal característica animais personificados, ou seja, animais que representam as características humanas, mas não só isso. Essas considerações induzem muitas vezes classificá-la como simples textos didáticos havendo contradições e até incoerências sobre conceituações e caracterizações dos textos.

      A fábula é um gênero narrativo e um tipo textual instigante e polêmico. Alguns estudiosos ressaltam a presença de moralidade, seu caráter exemplificador e, por isso, didático. Tive a oportunidade de ser aluna de Maria Valíria de Mello Vargas, estudiosa da influência da fábula indiana na fábula universal. Tive ainda a oportunidade de ser aluna e leitora de outra estudiosa do tema, e melhor ainda, autora de várias obras classificadas como literatura infantil: Maria Lúcia Pimentel de Sampaio Góes. Ela procurou detectar os diferentes tipos da fábula brasileira e acabou por chegar a uma primeira classificatória: "fábula aprendizagem", "fábula didático- moralista", "fábula admiração" e "fábula moderna". A palavra "fábula" reveste-se de significações como: "fala", "prognóstico", "narração de sucessos fingidos", "rumor do povo" e, ainda, "contos de velhas".

       A fábula, como outras produções, surgiu para adultos (ou sem público definido) e foi, exatamente por seu caráter de registro de valores sociais e arquetípicos, incorporada à literatura infantil ao lado dos contos de fadas. E que textos, sendo produções culturais, não trazem os reflexos sociais, morais e ideológicos, se não explícitos, implícitos? O que acontece na fábula é que há um certo hiperbolismo (exagero). Há personagens animais que na verdade,ressaltam as características humanas que se quer destacar, daí surgem pelo processo metafórico, animais/ termos como "cordeiro", "formiga", "cigarra", tomados como "pessoa pacífica", "pessoa trabalhadeira", "pessoa despreocupada", mostrando as analogias por processos de metonímia (parte pelo todo), apresentadas nas narrativas. A fábula, tendo um tema central, apresenta-se como figurativização, ou seja, materialização de um conceito abstrato que pode ser suscitado num provérbio, explicitado no promítio ou no epimítio, ou seja, no começo e/ou no fim do texto. Por essas características, as fábulas se assemelham às parábolas, aos adágios e à alegoria para alguns teóricos são considerados gêneros afins e, para outros, sutis variações de fábulas.
      A fábula é um gênero que tem se atualizado e se adaptado às mudanças sociais e culturais, por meio de reescrita, pelos processos de paráfrase, paródia, estilização, constituindo um dialogismo e uma intertextualidade com os textos anteriores, por alusão na mídia e, por fim, por sua incorporação no vocabulário ativo com expressões como "a galinha dos ovos de ouro".
     Independentemente de qualquer classificação mais detalhada, a fábula é, sem dúvida, parte do imaginário cultural, bem como reflexo desses valores, já que é uma produção humana. Por isso merecerá outro artigo só para comentarmos textos, livros, novelas e filmes que recontam e polemizam as fábulas tradicionais. Até lá!
 
 

Edição 2751 - 01 a 07 de Fevereiro de 2014 http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=187

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