quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
A agudeza da crônica
fonte:
"Esta semana conversando sobre o papel do cronista com minha amiga IVETE IRENE DOS SANTOS, colunista neste espaço, ficamos divagando sobre o porquê de escrever crônicas, e concluímos o seguinte: “escrevemos porque simplesmente queremos traduzir em palavras nossas divagações a cerca da vida”. Por isso transcrevo aqui outras reflexões nossas: Escrever trata-se de um ato de desprendimento e ao mesmo tempo de altruísmo, sem excluir o possível egocentrismo e presunção que o leitor tenha lido em “queremos”. Explico com uma indagação: E se pensarmos que ninguém vai ler? Bom, o primeiro leitor já somos nós mesmas. O ato de escrever trata-se de realização pessoal e de deleite para nós mesmos. Ter leitor não é almejar ser famoso no sentido midiático do termo, muito menos ser imortal, mas é imortalizar um pensamento, pelo menos prolongá-lo: o ápice é alcançar a empatia do leitor e não quer dizer que queremos que concorde conosco, mas que reflita conosco, -e como somos sortudas-, temos leitores, como já escrevemos antes, que mandam comentários e questões que nos fazem pensar e repensar... e então, mais que crônica ou artigo, fazemos ENSAIO sobre a vida... Mas isso já é outra história!"
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Crônica-aula: DOS SONS ÀS LETRAS DAS PALAVRAS
TREINANDO A LÍNGUA!
Dos sons às letras das palavras
Caro
leitor, nessa segunda coluna, focalizarei o assunto “fonema”, “som das letras”.
Em alguns momentos será necessário usar termos técnicos, mas traduzirei
metalinguisticamente, ou seja, utilizarei outras palavras para explicá-los.
Como prometi na coluna anterior, apresentarei como exemplos músicas, poesias,
programas, cenas de novelas... Acredito que seja importante usar os dois esteios, o tradicional e o novo- ora um
exemplo atual, popular, ora obras menos conhecidas por não estarem tão
presentes na mídia- com o objetivo de que vejamos as diferenças e ampliemos
nosso conhecimento.
Quando comecei a rascunhar o texto, ouvi, ao sintonizar
uma rádio, uma música de Belchior, relacionada indiretamente ao tema aqui
proposto. Belchior é na expressão de uma música sua: aquele "rapaz
latino-americano”. Outra música dele, Como nossos pais, ficou muito famosa
na voz de Elis Regina, e continua com letra que registra bem a realidade atual,
pois mesmo com mudanças, "ainda somos os mesmos e vivemos como os
nossos pais”. Outro trecho dessa composição soa como um trocadilho: “Não
quero lhe falar\ Meu grande amor\Das coisas que aprendi\Nos discos...”.
Interessante como nosso cérebro e nossos sentidos nos traem: até a adolescência
cantava “que aprendi nos livros”, pois para mim, até aquela época, a
aprendizagem estava associada às letras impressas. Apenas no Magistério pude
estender o conceito de leitura, conhecendo a teoria do educador Paulo Freire
suscitada na expressão "a leitura de mundo precede a leitura de
palavras". Tive também, enquanto cursava no CEFAM, Centro Específico de
Formação e Aperfeiçoamento do Magistério,
a extensão do conceito de “comunicação”, com a definição de língua como
uma forma de linguagem, portanto, uma forma de comunicação, mas não a única; há
também linguagem não verbal, ou seja, é possível ler também gestos, cores,
sons, formas, entre outros elementos que mesmo com outra função também nos
permitem comunicar.
Mas voltemos à música do Belchior e outro trecho que eu
também cantava errado: “Você pode até dizer\ Que eu estou por fora\ Ou então\
Que eu estou enganando...\ Mas é você\ Que ama o passado\ E que não vê \Que
o novo sempre vem...”. Sempre cantei
que “você que anda ultrapassado”.
Mas não são apenas as músicas que confundem os ouvidos, há exemplos clássicos
de como o uso transformou algumas palavras e expressões: "Quem tem boca
vai a Roma" é, para alguns falantes, "Quem tem boca vaia Roma";
"Cuspida e escarrada" era na verdade "Esculpida e
encarnada"; “Batatinha quando nasce...” Complete... “espalha ramas pelo chão!”
Outras expressões sofreram aglutinações na pronúncia: "em boa hora"
tornou-se "embora"; "plano alto" tornou-se
"planalto".
A
língua, sendo manifestação cultural, sofre também influência social, e não
estou me referindo apenas aos sotaques, mas à existência de certos fonemas. Por
que associamos que japonês não pronuncia "carro", com o "r"
forte? Na verdade a dificuldade em falar uma segunda
língua está na comparação com a língua materna.
Não há língua fácil ou difícil, mas diferente. Belchior, cujas
composições foram escolhidas como exemplo, tem uma música intitulada Num
país feliz, cujo trecho "E
o índio ia indo, inocente e nu\ Sem rei, sem lei, sem mais, ao som do
sol", de certa forma retoma o Tratado
descritivo do Brasil em 1587,
redigido pelo cronista Gabriel Soares de Sousa. Os portugueses
associavam a partir do seu ponto de vista cultural que os índios não tinham
lei, nem fé, nem rei, por não terem as letras\grafemas L, R e F e os sons\fonemas. Os índios não
tinham mesmo suas leis, seus reis e sua fé?
Em se
tratando de língua devem ser levadas em consideração as diferenças culturais, analisando
o contexto comunicativo. E na língua escrita, foco de próximas colunas, é
preciso não confundir "letra" com "som", pois uma letra
pode representar sons diferentes e vice-versa. Leia em voz alta essas palavras,
observando, sobretudo, as letras grifadas: "máximo","exame", tóxico", "exceto",
"xale", "chalé","zebra"...
Quem já não ficou em dúvida como escrevê-las ou pronunciá-las? Os olhos e a boca (quando não a cabeça)
também nos traem, ainda mais quando os termos são homônimos ou parônimos. Até a
próxima!
fonte: Jornal INTERATIVO/FEVEREIRO 2014 p.10
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Fábulas de Monteiro Lobato: fabulosas versões à moral.
fonte:http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=196
Caros leitores, a proposta dessa coluna é continuarmos nosso passeio pelas fábulas e pelo tema literatura infantil. E não se pode pensar em literatura para crianças sem citar Monteiro Lobato. Embora ele também tenha escrito obras para adultos, como Urupês, Negrinha e O presidente negro, que ainda hoje provocam polêmicas e reflexões, há consenso, resumido na perífrase “Monteiro Lobato, pai da literatura infantil brasileira”, fazendo que se associe, inclusive, a data de seu aniversário, 18 de abril, ao dia do livro.
Como autor de literatura infantil consagrou-se por criar personagens e estórias próximas das expectativas e “necessidades” das crianças, cujas aventuras são lidas até hoje e ganham adaptações à linguagem teatral, televisiva e até cibernética.
A obra Fábulas,escrita em 1922, foco de nossa análise, é a segunda obra infantojuvenil do autor e explicita a concretização do projeto de Monteiro Lobato de tornar acessível às crianças estórias consagradas, não só pela adequação da linguagem mas por apresentar personagens com as quais as crianças se identifiquem. Em correspondência a Godofredo Rangel, escritor e amigo, podemos constatar a opinião de Lobato sobre as traduções das fábulas, consideradas por ele “apenas moitas e amora do mato-espinhentas e impenetráveis”. Com o objetivo de torná-las mais atraentes havia pensado num fabulário nosso, com bichos daqui, em vez dos exóticos e assim “vestir à nacional as velhas fábulas de Esopo e La Fontaine, em prosa e mexendo com as moralidades”.
As personagens lobatianas, aquelas já apresentadas na obra A menina do nariz arrebitado, obra anterior e inaugural de Monteiro Lobato interagem indiretamente com as personagens criadas por Esopo e La Fontaine em suas estórias. Comentei na coluna anterior que o livro Fábulas inicia-se com a comparação entre a formiga boa e a formiga má. Há metalinguagem na discussão sobre o próprio gênero transparecida no comentário de Emília sobre a inexistência de formigas más e a explicação de dona Benta dizendo que as fábulas não eram lições de História Natural, mas de Moral. A interdiscursividade, ou seja, relação entre os discursos e assuntos, ocorre pela retomada temática: várias fábulas serão figurativizações, ou seja, novas situações sobre os mesmos temas. A maneira como os textos são apresentados possibilita uma discussão sobre a cristalização de conceitos e papel da moralidade como reflexo da sociedade e como mantenedora de ideologias. A criação de versões da mesma fábula ou de textos contrastantes já propõe uma leitura crítica desse gênero literário. Emília com seus comentários, de certa forma, convida o leitor a rever conceitos já enraizados, ou pelo menos conhecer outros pontos de vista.
Fábulas é uma narrativa que pode ser lida em uma “sentada só” ou como novela literária, já que cada fábula pode ser lida separadamente. Ao apresentar suas versões de fábulas demonstrando que há pontos de vista diferentes, Monteiro Lobato suscita à liberdade de expressão e de leituras interpretativas. As personagens decidem rasgar e jogar fora as fábulas de que não gostam. Pedrinho diz que muitas são a sabedoria popular e por isso precisa de tempo para digeri-las e “se não valem de muita coisa, valem por serem curtinhas”. Na opinião de Narizinho, as fábulas são sabidíssimas, e embora preste-se atenção à fala dos animais, são as moralidades que ficam na memória. Já Emília as considera uma indireta às pessoas. Visconde, usando a retórica caracterizadora de sua personagem, teoriza que as fábulas mostram apenas duas coisas: que o mundo é dos fortes, e que o único meio de derrotar a força é a astúcia. Com esse comentário Visconde faz referência às fábulas que têm como “pano de fundo”a crítica social.
O sítio do picapau amarelo, cenário dos enredos, lugar utópico de discussões, transpassa os limites espaciais do imaginário e das páginas do livro e se concretiza na leitura, na criticidade do leitor e nas ações do sujeito que ao ler a obra e tomar conhecimento do acervo herdado decide redescobri-lo ou reinventá-lo. E assim a fábula, mais que reflexo da moralidade, como texto, provoca reflexão. Por isso tão fabulosa, como diria Millôr Fernandes, nosso próximo autor comentado.
Edição 2752 - 15 a 21 de Fevereiro de 2014 http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=196 (p.12)
sábado, 1 de fevereiro de 2014
artigo FÁBULA. Além da moralidade!
Caro leitor, continuando as reflexões sobre a literatura universal e a literatura infantojuvenil, comentarei nesse artigo sobre a fábula. Sim, aquele texto que tem por principal característica animais personificados, ou seja, animais que representam as características humanas, mas não só isso. Essas considerações induzem muitas vezes classificá-la como simples textos didáticos havendo contradições e até incoerências sobre conceituações e caracterizações dos textos.
A fábula é um gênero narrativo e um tipo textual instigante e polêmico. Alguns estudiosos ressaltam a presença de moralidade, seu caráter exemplificador e, por isso, didático. Tive a oportunidade de ser aluna de Maria Valíria de Mello Vargas, estudiosa da influência da fábula indiana na fábula universal. Tive ainda a oportunidade de ser aluna e leitora de outra estudiosa do tema, e melhor ainda, autora de várias obras classificadas como literatura infantil: Maria Lúcia Pimentel de Sampaio Góes. Ela procurou detectar os diferentes tipos da fábula brasileira e acabou por chegar a uma primeira classificatória: "fábula aprendizagem", "fábula didático- moralista", "fábula admiração" e "fábula moderna". A palavra "fábula" reveste-se de significações como: "fala", "prognóstico", "narração de sucessos fingidos", "rumor do povo" e, ainda, "contos de velhas".
A fábula, como outras produções, surgiu para adultos (ou sem público definido) e foi, exatamente por seu caráter de registro de valores sociais e arquetípicos, incorporada à literatura infantil ao lado dos contos de fadas. E que textos, sendo produções culturais, não trazem os reflexos sociais, morais e ideológicos, se não explícitos, implícitos? O que acontece na fábula é que há um certo hiperbolismo (exagero). Há personagens animais que na verdade,ressaltam as características humanas que se quer destacar, daí surgem pelo processo metafórico, animais/ termos como "cordeiro", "formiga", "cigarra", tomados como "pessoa pacífica", "pessoa trabalhadeira", "pessoa despreocupada", mostrando as analogias por processos de metonímia (parte pelo todo), apresentadas nas narrativas. A fábula, tendo um tema central, apresenta-se como figurativização, ou seja, materialização de um conceito abstrato que pode ser suscitado num provérbio, explicitado no promítio ou no epimítio, ou seja, no começo e/ou no fim do texto. Por essas características, as fábulas se assemelham às parábolas, aos adágios e à alegoria para alguns teóricos são considerados gêneros afins e, para outros, sutis variações de fábulas.
A fábula é um gênero que tem se atualizado e se adaptado às mudanças sociais e culturais, por meio de reescrita, pelos processos de paráfrase, paródia, estilização, constituindo um dialogismo e uma intertextualidade com os textos anteriores, por alusão na mídia e, por fim, por sua incorporação no vocabulário ativo com expressões como "a galinha dos ovos de ouro".
Independentemente de qualquer classificação mais detalhada, a fábula é, sem dúvida, parte do imaginário cultural, bem como reflexo desses valores, já que é uma produção humana. Por isso merecerá outro artigo só para comentarmos textos, livros, novelas e filmes que recontam e polemizam as fábulas tradicionais. Até lá!
Edição 2751 - 01 a 07 de Fevereiro de 2014 http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=187
Assinar:
Postagens (Atom)
Postagens populares
-
Desde meus 10 anos, lá na quinta série, escrevo. Aquelas poesias e contos que se mostra aos professores, aos amigos, aos amores... Algumas,...
-
A IMPORTÂNCIA A LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO PROFISSIONAL Muita coisa mudou no mundo empresarial, por isso é comum encontr...
-
http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=145 página 4 Edição 2739 - 26 de Outubro a 01 de Novembro de 2013 Na semana anteri...
-
Para muitos cientistas, o melhor exemplo da inteligência do homo sapiens não é sua capacidade tecnológica de criar, mas a con...
-
. . . Provavelmente, (para os outros), o fato mais poético de minha vida Seja ter me criado na rua Contos Amazônicos Subúrbio, perife...
-
Entre um mau dia e um boa-noite, uma crônica Numa dessas noites, quando começava adormecer, o telefone tocou. Atendi-o em estado de son...
-
Ainda sobre letras e melodias: vogais. Quando questionado quantas vogais temos no alfabeto é comum dizer cinco. Há...
-
À AMIGA De repente estava ali Fazendo parte da minha vida Como são os amigos, sorrateiros, envolventes Furtam, com a permissão de deus, a...
-
http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=76 Continuando a temática da coluna anteri...