sábado, 3 de agosto de 2013

Crônica AMIZADE ENTRE PESSOAS E LUGARES

Edição 2727 - 03 a 09 de agosto de 2013
 
Talvez imbuída pelo dia do amigo, comemorado no dia 20 de julho, a amizade  será o tema dessa crônica.  Não posso dizer que a Ivete Irene dos Santos, colunista neste espaço,  não estará presente  no texto, já que o tema é a amizade, e ela, companheira de discussões, estará presente em muitas das reflexões que farei aqui, até mesmo por que, nas semanas anteriores escrevemos sobre intertextualidade, interdiscursividade e originalidade, e comentamos como é impossível textos e discursos autênticos uma vez que recuperamos as produções já existentes. Como proposto no título, quero estender a amizade entre pessoas e lugares por que outras reflexões têm me permeado a cabeça nessas férias.
Tenho que contar um pouco da minha trajetória: não nasci em São Paulo, embora sempre me descreva como santamarense, e mais especificamente como moradora de Interlagos, minha relação com o lugar surgiu depois. Sou carioca e vim morar em São Paulo com três anos, na região do Campo Limpo. Conheci a Ivete em 2002, quando cursávamos o Mestrado e me lembro como foi nosso primeiro contato: mais extrovertida, na hora da apresentação informal, ela  perguntou “Alguém mora em Santo Amaro? Pois tenho a intuição que começarei uma longa amizade com uma moradora de lá e ela começará me dando uma carona”. De fato começava uma amizade, envolvida, inicialmente, pela paixão pelas Letras, já que fomos fazer Mestrado nessa área e depois por outras afinidades que surgiriam ou descobriríamos. A Ivete era apaixonada por Interlagos, nasceu aqui e achava que seu destino poético já tinha sido traçado antes mesmo de nascer: sua rua era Contos Amazônicos,  duplamente poético: explicitamente pelo nome e pela referência à obra do paraense Inglês de Sousa, e depois textualizado em poemas dela, expostos em mostras culturais, em eventos do CEUs, em blogs e em seu site. Um deles sintetiza seu destino, transcrevo um trecho do poema Infância em contos amazônicos: “Provavelmente, (para os outros),  o fato mais poético de minha vida \ Seja ter me criado na rua Contos Amazônicos \ Subúrbio, periferia de São Paulo. \ Mas não é assim que defino minha rua. \ Rua de fazer e viver poesias \ Rua de brincar de corda \ Emprestando minha mãe \ Que tinha o dom de transformar coisas em brinquedos...”.
Conheci a sua paixão pelo laguinho, pelos templos religiosos da região, pelas casas de cultura,  pelas histórias que me contava, pois ela trabalhou como professora nos bairros Colônia, Grajaú, Cocaia, conhecia as aldeias da região, participara  das festas de aniversário de Parelheiros, tinha os amigos que participavam das várias nações, etnias, culturas fundadoras e presentes na região.
Ela é filha de nordestinos que vieram “tentar a sorte” e, ao mesmo tempo, contribuíram com São Paulo, assim como eu sou filha de  mineiros que vieram fazer o destino em São Paulo. E se ela tinha parentes que passaram a morar perto de mim, na região de Campo Limpo, eu passava a frequentar mais Interlagos: começamos a trabalhar juntas em faculdades de ambas as regiões: “do lado de lá e do lado de cá da represa”, como costumávamos dizer, e textualizamos no poema Entrelagos.
Não sabia eu que,  depois,  também ganharia um endereço fixo em Interlagos. Há dez anos conheci quem viria a ser o meu marido,  alguém que representa bem a história da imigração: filho de alemães,  nasceu,  fixou-se , investiu como empresário  e  é apaixonado por Interlagos. Na minha vivência com ele aprendi  a enxergar a poeticidade desse lugar e a sentir saudades daqui, mesmo quando viajamos para lugares tão sonhados conhecer: ícones do Brasil e até mesmo ícones do mundo. Apaixonado por esportes náuticos, à frente do lago  Bodensee, na divisa entre Áustria, Alemanha e Suíça, ele disse algo que sintetiza Interlagos como sua pátria : “Prefiro minha represinha!”
Como em uma amizade verdadeira, vemos sim os defeitos de quem gostamos, o que não nos impedem de amar o lugar, pelo contrário, como educadora, cidadã, sou motivada não só a sonhar com uma região ainda melhor,  mas a agir , não necessariamente com grandes atos, mas com a crença  nas   pequenas semeaduras. E nisso incluem-se as palavras...
Daniella Barbosa Buttler

sábado, 20 de julho de 2013

Artigo Reescrita e releituras!

 
Com certeza, caro leitor, alguma vez ao ler um texto, assistir a um filme, novela ou peça, ou até mesmo ao ouvir uma música, você já teve a sensação de conhecer a estória, mesmo que ela não tenha no título ou no enredo uma explícita relação com outra obra.
Em tempos de muitas produções, é difícil falar em autenticidade de ideias ou palavras. Uma música do grupo Legião urbana proclama “sei que às vezes uso, palavras repetidas, mas quais são as palavras, que nunca são ditas?”.
    Durante nossa vida adquirimos muitos conhecimentos por meio de vivências como viagens, leituras, filmes, peças teatrais, visitas a museus, estórias e experiências contadas por outras pessoas  etc. Esse conjunto de conhecimentos, ao qual se domina, repertório cultural, tem um papel decisivo na leitura, na produção e na interpretação de textos. Assim, quanto maior é o repertório cultural do leitor, mais bem preparado ele está para ler com profundidade os diferentes textos que circulam socialmente e perceberá as relações entre eles, que teoricamente denomina-se intertextualidade.
    Retomemos o exemplo do Legião urbana: o filme Faroeste cabloco e Somos tão jovens. O primeiro, um desenvolvimento da música homônima; o segundo, um filme que não é biografia ou documentário, ao qual  tomamos a liberdade de considerar “ficcionalização da biografia do grupo”, no estilo de outras produções: Lula, o filho do Brasil; Cazuza; Os dois filhos de Francisco, pois se consideramos que há seleção do “como dizer”, do “como contar”, é uma recriação da realidade, uma “literarização da realidade”, como fez tão bem , por exemplo, Manuel Bandeira no Poema tirado de uma notícia de jornal e no poema Pneumotórax; ou poema Infância ou poemas sobre Itabira, de Carlos Drummond de Andrade,  só para citar dois poetas que relemos hoje, antes de rascunharmos esse texto.
     Alguns livros viram filmes, alguns filmes viram livros. Nós mesmas já compramos vários roteiros ou conhecemos a obra narrativa depois de assistir ao filme: Verônika decide morrer; Comer, rezar, amar; Crônicas de Nárnia; Harry Porter; Jogos vorazes entre outros.
     Listemos outras obras e produções brasileiras: o filme Meu pé de laranja lima, do livro de José de Vasconcelos, filmado em 1970 e refilmado no ano passado e ainda em cartaz em alguns cinemas. O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, apresenta intertextualidade com as obras de Gil Vicente e numa leitura mais atenta, com O Mercador de Veneza, de Shakespeare. Intertextualidade com Shakespeare também aparece na novela O cravo e a rosa em  semelhanças com A megera domada,  e em todos os enredos em que personagens de famílias inimigas se apaixonam, pois logo associamos ao amor de Romeu e Julieta (obra que por sua vez, se assemelha  a uma estória grega muito mais antiga: Píramo e Tisbe).
     Aqui na zona sul de São Paulo, temos algumas peças sendo exibidas em teatros e bibliotecas da região, como “Sonho de uma noite de São João.... quer dizer: Verão!”, cujo título mostra explicitamente a relação com a obra de William Shakespeare. “Um dedinho de prosa”, que nos faz lembrar da expressão popular. O enredo é contado pelo contador de causos Professor Robson Santos. E ainda temos a peça “A volta ao mundo em 80 dias”, um espetáculo baseado na obra literária do Julio Verne.
     A lista de citações está enorme, professoras,  em tempo de férias, além de mais atenção à família, fazemos o que mais gostamos: leituras,  visitas a sebos, idas a cinema, visita a bibliotecas,  organização dos livros e DVDs, zapping pela TV com olhar atento às intertextualidades e, como na sobreposição de páginas de interrnet, uma obra leva a outra... e assim, mesmo obras já lidas são ressignificadas em novas leituras, sobretudo com os feedbacks que recebemos por e-mails dos leitores que também compartilham suas produções, leituras e experiências... e novas leituras, ressignificam a vida!
 
Texto REESCRITAS E RELEITURAS (Daniella Barbosa e Ivete Irene do Santos)
 

sábado, 13 de julho de 2013

Literatura para quê?
Tentar convencer alguém sobre a importância da literatura nesta sociedade consumista e capitalista é difícil, principalmente se levarmos em consideração as classificações apresentadas em obras sobre o tema. Em uma falsa contraposição aos textos utilitários (não-literários), a literatura é classificada como arte, mas também como não-utilitária. Texto sem utilidade, então?
    A palavra literatura vem do latim “litteris” e significa letras, por isso se associa à gramática, à retórica e a texto. Porém, não se pode pensar ingenuamente que tudo é literatura: nem todo texto  e nem todo livro publicados são de caráter literário. Definir literatura é difícil porque se trata de um conceito histórico. Se antes a literatura era feita de composições predominantemente orais e em versos, seguindo uma estrutura formal de acordo com critérios estabelecidos desde a antiguidade, nos últimos séculos sofreu uma evolução, aceitando novos gêneros e moldando-se à criação de novos meios de veiculação, como a internet. Podemos resumir que literatura é a arte da escrita em que o mais importante é o “como” se diz e não “o que” se diz. Para muitos  escritores,  a função da literatura é a do deleite. É verdade! Quem não gosta de contemplar o belo? E não significa que a literatura fale só do que é bonito, mas fala de maneira bonita sobre coisas, fatos, pessoas,  inquietudes,  alegrias e tristezas humanas. A  estética é importante. Mas essa não é a única função.
      A literatura também tem a função comunicativa: busca uma interação entre interlocutores de épocas diferentes, e  a função cognitiva, já que a literatura sempre  ensina algo mesmo quando isso não é o compromisso (e não deve ser mesmo esse o objetivo), seja por retratar, contrapor, romper os paradigmas ao que chamamos de realidade. Por exemplo, ao lermos um livro do Machado de Assis, aprendemos sobre o gosto, os valores, os costumes das pessoas daquela época. Uma fábula, narrativa com personagens animais apresentando moralidades explícitas no texto, também nos permite várias leituras. Quem não conhece uma versão da “Cigarra e a formiga”? Podemos lê-la presos ao enredo, como uma estória de dois insetos, ou como metáforas de seres humanos, ou como metáforas de uma época, ou ainda como metáforas de nós mesmos, nos dois papéis e conflitos: “quando ser formiga, quando ser cigarra?” Por isso, esse e outros textos sobrevivem por séculos, pois ainda falam à essência do ser humano.
     Há ainda as funções político-social e humanizadora já que de uma forma ou de outra  desenvolve um projeto transformador na sociedade. Citemos o livro “1984”, de George Orwel, cujas vendas dispararam no mês passado. Isso ocorreu devido ao esquema de monitoramento de dados realizado nos Estados Unidos. George Orwell foi um visionário: na ficção escrita décadas antes, a sociedade era  vigiada e controlada pelo personagem Big Brother!
      Existem  sim várias formas de conhecer a realidade, mas a literatura  pode nos oferecer elementos para entender esse mundo complexo, envolvendo-nos ou distanciando-nos dele por meio de enredos  mais realistas ou mais fantásticos. Em meio às discussões sob a humanização de máquina, sob que paradigma você lê “Pinóquio”? Ou até mesmo “João e Maria”? “Cinderela”? Citamos essas obras consideradas pertencentes à literatura infantil para ratificar: o próprio conceito de literatura muda com o tempo, por isso uma obra  lida por diferentes leitores, ou em diferentes momentos, pode proporcionar diferentes leituras.
    Temos o privilégio de ter escritores da região inscritos na história da literatura nacional: Paulo Eiró, poeta do Romantismo, cuja biografia, sucinta nas poesias, parece uma ficção; e  José Paulo Paes, escritor da terceira fase do Modernismo, que encantou adultos e crianças com seu poetar, e cita em seu livro Quem eu? sua estada em  Santo Amaro, lugar que adotou para morar. E eles deixaram herdeiros...
    Nós, moradores da Zona Sul de São Paulo, temos a honra de ter um escritor em nossa região: Olívio Jekupê, que revisita a estória do Saci, mostrando a versão (verdadeira) indígena. Ele foi convidado pela FLIPinha a mostrar seu trabalho e a palestrar junto com Ricardo Ramos, neto de Graciliano Ramos. E há outros escritores da aldeia Krukutu, em Parelheiros, como Maria Kerexu, Luiz Carlos Karai, Jeguaka Mirin, Tupa Mirin, Jera Gisela, todos autores guarani.
     Temos, também em Santo Amaro, os cordelistas Moreira de Acopiara,  Varneci e  Pedro Monteiro, todos com livros publicados. Há as escritoras  Leda Kraml  que escreveu sobre a Granja Julieta e Isaura Camila Borges e Castro, uma lusitana santamarense. Sem deixar de citar os contadores de história e escritores como a Andrea Sousa, Robson Sousa e João Luiz do Couto e outros artistas da palavra que vamos descobrindo ou redescobrindo nas casas de cultura, nos eventos, nas bibliotecas, nos sites... Todos amantes e divulgadores da literatura. Para quê? Para alimentar a imaginAÇÃO! (Daniella Barbosa e Ivete Irene dos Santos)
Edição 2724 - 13 a 19 de Julho 2013- LITERATURA PARAQUÊ?



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Crônica VERBO DAR E OUTROS TERMOS VICÁRIOS

                                                                       fonte:http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=84
 
Caro leitor, na crônica anterior apresentei uma palavra no título que não é muito adequada para um contexto formal. Você notou? “Coisa” é considerado um termo vicário, ou seja, substituto, “termo genérico”, pois “cabe” em diferentes contextos. Esse era o objetivo do título:  generalizar.
Outros termos considerados vicários são os verbos “fazer” e “dar”. Você já notou que eles apresentam, sozinhos  ou associados a outros termos, vários usos? Consultando um bom dicionário, encontram-se várias acepções. Exemplificarei:
O homem deu uma ajuda; O feirante deu-me meio quilo de uvas, O patrão deu o aumento esperado; Davam tudo para conseguir salvar a filha; É ele quem as cartas na empresa; Deu na televisão que amanhã será o dia mais quente do ano;  A enfermeira deu-lhe dois comprimidos; Deu-me um dor no estômago ao olhar a madeira que deu bicho; O relatório deu mais de 50 páginas; Um e um dão dois;  A namorada deu um beijo apaixonado; Demos um susto no amigo; Isso me dor de cabeça; O filme sono; O casamento deu-se ontem; Ele precisa dar um impulso na carreira, para dar mais lucros. Não precisa nos dar explicações; Antes de darem oito horas, voltarei; Ninguém deu ordem aos prisioneiros; Os móveis não dão na sala; Os bandidos deram azar: deram-se mal. Há muitos outras acepções do verbo “dar”, entre elas a conotação sexual,  nem sempre validadas pela norma culta, mas validadas pelos falantes.
Se em algumas situações  essa pluralidade de sentidos pode ser considerada uma riqueza da língua e ser um recurso intencional para criar trocadilhos ou ambiguidades, em outros contextos pode sugerir uma carência vocabular: a falta de conhecimento de palavras  mais expressivas e precisas, ou seja, não genéricas. As expressões “dar aulas”, “dar o presente”, “dar instruções”, “dar informações”, “dar gratificações”, por exemplo, poderiam ser substituídas respectivamente por “lecionar”, “presentear”, “instruir”, “informar”, “gratificar”. Proponho uma atividade: releia as frases do parágrafo anterior e parafraseie-as.
Se não der para fazer agora, tomara que tempo entre as comemorações de fim de ano. Aproveito para finalizar a coluna dando votos de Boas festas!
 
Edição 2697 – 21 a 27 de dezembro de 2012-página 12 - http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=84



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crônica O nome das coisas


 
Será impossível comentar os significados das palavras e não comentar como professores foram importantes para despertar a paixão por elas. Lembro-me, enquanto escrevo este texto, da professora Aureni, professora de Língua Portuguesa da quinta série. Ela explicava a poesia contida na palavra, e não só as palavras contidas na poesia.  Já no Ensino Médio, tive outra professora marcante: Marisa Neves, que me ajudou a decidir na escolha da  faculdade: Letras, para continuar conversando com as palavras. E assim eu relia e ressignificava textos já conhecidos.
A Bíblia, tomada como fonte religiosa ou literária, explica: ao homem coube nomear as coisas. Embora o nome não tenha que ter  relação com a coisa nomeada, passa a ter, pelo uso, pela história, pelo discurso,  relação com a cultura. Por que maçã do rosto e não laranja do rosto?  Você  já pensou que “enfezado” tem a mesma raiz da palavra “fezes” ?
            Os termos “desorientado”, “desnorteado”, revelam  o destino  das navegações:  era preciso saber para onde se ia, ou para onde se  tinha que voltar. A importância das navegações também é sugerida no verbo “embarcar”. Durante  séculos, “embarcação”   era um dos poucos meios de transportes existentes, hoje quem pode, embarca no avião, no trem, no ônibus, no carro...
Referir-se a um pré-adolescente como “guri”, “piá”, “moleque”, “garoto” acaba revelando a  origem do enunciador ou do ser descrito.  “Idoso”, “na melhor idade”, “velho”, não são sinônimos perfeitos, como não são equivalentes   “broto”, “mina”, “gata”, “moçoila”, “senhorita”.
As referências aos relacionamentos também sofrem transformações: “namorido”, “peguete”, “fiquete”  são neologismos que compõe o vocabulário de jovens.
            Mas a língua pode  revelar outros aspectos: a integração de culturas. Como apresentado em colunas anteriores, “capoeira”, embora usado para designar uma luta da cultura africana, é um termo indígena.
Vários vocábulos revelam a nossa raiz indígena, ainda que abafada ou despercebida, se o nome  Brasil é  devido à planta “pau Brasil”, para muitos indígenas, este país era “Pindorama”, terra das palmeiras. Outros termos indígenas integram nosso vocabulário: “Ibirapuera” significa "madeira podre", “Pacaembu” é “arroio das pacas”; “Morumbi” é  “morro ou colina muito alta” ou ainda “mosca verde”, para outros etimologistas;  “Jabaquara” significa rocha",  "buraco",  "lugar dos refugiados";  “Moema”, personagem imortalizada por José de Alencar e nome de bairro,  significa “mentira”, falsidade" .
A consulta a  bons dicionários faz, se não a história, o significado de alguns outros termos que nomeiam bairros: “Congonhas” é  “planta da mesma família do mate”;  “Grajáu”, é  “cesto oblongo”. “Interlagos” significa  “entre lagos” ( Embora  se esteja  entre represas, o nome é sonoramente mais expressivo). O nome “Parelheiros” vem do costume germânico de fazer corridas com um tipo de carroças puxadas por parelhas de cavalos.
Os imigrantes contribuíram com a cultura e, consequentemente, com a inserção de termos que passaram a integrar a língua portuguesa, inclusive com nomes próprios. Temos, por exemplo,  simultaneamente John, João, Ivan, Hans, Jean e Jonas.
E em se tratando de nomes até eles sofrem influência da moda, tornando-se carregados de simbologia. O nome não é a própria coisa, mas quem já não pensou que se tivesse outro nome seria outra pessoa?
 

REVISTAEI artigo Desvelando as representações

 
DESVELANDO AS REPRESENTAÇÕES
Daniella Barbosa Buttler e Ivete Irene dos Santos
 
 
O ambiente humano empreende a criança numa rede de representações sociais e linguísticas, por isso um mesmo fato pode ter representações diversas, ainda que de forma sutil...
 
 
 
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Crônica Uma nova língua escrita?

                                           http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=76




Continuando a temática  da coluna anterior, tratarei aqui da nova ortografia, pois embora a discussão tenha sido iniciada há mais de dez anos, pode-se considerar que ainda estamos na fase de adaptação. Com certeza, você já deve ter notado que algumas palavras tiveram a grafia alterada. “Ideia”, agora é sem acento, “heroico” também. Palavras compostas, como “autoescola”, “anti-inflamatórias”, “antirrugas” também estão regidas por novas regras.
Apesar da polêmica que o tema ainda gera, a modificação ortográfica é fato e é preciso considerar alguns dados. Não é a primeira vez que há  novas regras ortográficas, por isso, indivíduos que já eram alfabetizados na década de 70 tiveram que se adaptar às mudanças impostas pelo decreto que causou duas alterações significativas: eliminava a maior parte dos acentos diferenciais, como em “êle” (pronome) e “ele” (substantivo); e extinguia os acentos subtônicos como em “sómente”, “cafézinho”, “ chapéuzinho”.
A língua é uma manifestação cultural, mas a grafia é regida por lei, por isso, independentemente da aceitação individual, ela será cobrada nas produções oficiais; Outro item importante a esclarecer é que a nova grafia não alterará a pronúncia: o “gui” de “linguiça” não deve ser lido como o “gui” de “guidão”; “geleia” não deve ser lido com o som fechado (ê), como o pronome “você”.
O propósito da lei é a unificação da grafia, o que  deve facilitar, por exemplo, as buscas que ocorrem em pesquisas na internet, todavia, é preciso destacar que as variações de vocabulário e de significado continuarão ocorrendo: “Pai Natal”, para Portugal, e “Papai Noel”, para o Brasil; “cadarço”, no Brasil; “atracador” no português europeu, asiático e africano, só para citar duas variações.
Mas voltemos ao tema acentuação: Não há mais o acento  nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas (penúltima sílaba tônica, ou seja, a mais forte), como "centopeia, “boia”, “jiboia”.
         Não há mais acento nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo (duas “vogais” juntas na sílaba), assim,  "feiúra" e "Bocaiúva", passam a ser grafadas "feiura" e "Bocaiuva".
              Exclui-se também o acento nas formas verbais que têm o acento tônico no radical, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Formas verbais como “averigue” (averiguar), “apazigue” (apaziguar) escrevem-se assim.
Mas atenção, palavras oxítonas (última sílaba tônica) como “café”, “Paraná”, “vovô”, entre outras, continuam sendo acentuadas, pois terminam em “a”, “e” e “o”.   As vogais “i” e “u” só recebem acento na última sílaba se forem hiato, ou seja, precedidas por vogais que ficam separadas na pronúncia e, consequentemente, na divisão silábica. Os vocábulos “Grajaú”, “baú”, “Piauí”, por exemplo, são acentuados, já os termos “caju”, “Pacaembu”, “Turiaçu”, “parti (-lo)”, embora oxítonos, são grafados sem acento, pois não ocorre hiato.
Há outras regras a serem apresentadas, mas uma forma de aprendizagem não é somente com o conhecimento das regras, é também com a leitura de bons textos que já estejam escritos na grafia vigente. Voltaremos a tratar do tema reforma ortográfica, mas incitada pela crônica da professora Daniella Barbosa "Feriado, pra que te quero" e pelos exemplos aqui listados, na próxima coluna abordarei a etimologia de alguns vocábulos.
Você já sabe, se leu a coluna Ideias, cenas e palavras, que “saci-pererê” é um termo indígena. E “Grajaú”, “Caju”, “Congonhas”, “Moema”, “Interlagos”, “Pacaembu” , “Turiaçu”, “Bocaiuva”, você sabe o que etimologicamente significam? Na próxima coluna faremos um passeio pela história das palavras. Até lá!

Edição-2693 23-a-29-de-novembro-de-2012 -GRUPO SUL NEWS




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cria-se uma crônica com dicas dé língua portuguesa!

fonte:http://www.gruposulnews.com.br/edicoes.php

EM DIA COM A LÍNGUA! Cria-se uma coluna com dicas de língua portuguesa!

Caro leitor do jornal Gazeta de Santo Amaro, possivelmente,  ao folhear o jornal,  você já tenha notado a existência desta nova coluna. Gostaria de me apresentar: sou  Ivete Irene e, além de leitora do jornal, moradora da região, sou professora de Língua, Literatura e Redação, e a exemplo de escritores ou educadores colunistas de outros jornais e revistas quero, humildemente, compartilhar dúvidas e conhecimentos sobre a Língua Portuguesa, para ficarmos EM DIA COM A LÍNGUA!

Mesmo sendo a nossa língua pátria, com a qual nos comunicamos com amigos, com nossos familiares, a qual utilizamos no meio profissional, quantas vezes não ficamos inseguros sobre a correção ou a adequação do que estamos falando ou escrevendo ?

Será que aquela propaganda estava correta? Será que é “mau” com “u” ou com “l”? Nessa frase o correto é “despercebido” ou “desapercebido”? É “ cerveja que desce redondo” ou “cerveja que desce redonda?” Vou trocar o “auto-falante” ou o”alto-falante”? “Carrossel” tem a ver com “carro” e “céu”? Qual a origem da palavra “salário”? Por  que “estender” é com “s”, mas “extenso” é com “x”? O  “politicamente correto” é usar a palavra “deficiente” ou “portador de necessidades especiais”?

A coluna não será uma aula formal, será uma conversa na qual serão apresentadas dicas práticas e reflexões a partir de situações do cotidiano, com exemplos de trechos de músicas, de propagandas, de poesias, de frases de caminhões, de placas, de trechos de novelas, de “palavras que estão na boca do povo” e até mesmo de dúvidas citadas pelos leitores, por e-mail.

Que tal começarmos  nossa reflexão? Você já pensou sobre a nova grafia?

Com certeza, a regra mais fácil corresponda à eliminação do trema. Pouco lembrado na grafia de textos escritos à mão, agora sua eliminação é oficial, deve  permanecer apenas em palavras de origem estrangeira. Outra alteração que talvez passe despercebida é a incorporação das letras “k”, “y” e “w” ao nosso alfabeto, pois vários estrangeirismos que utilizam essas letras já fazem parte do vocabulário dos falantes. 

Outra regra fácil de interiorizar é “não há mais acento em  letras duplicadas” , portanto  palavras como “voo”, “zoo”, “coo”, “leem”, “veem”, “creem” não levam mais acento. Mas é preciso não confundir com outra regra: “permanece o acento diferencial nos verbos de 3ª pessoa do plural”, ou seja, (Eles) vêm, (Eles) têm, (Eles) contêm, para não serem confundidos com a forma singular, recebem o acento circunflexo, carinhosamente chamado de “chapeuzinho”.

E quanto ao acento agudo? Você já percebeu que “ideia”, “paranoico”, “colmeia”, entre outras palavras, não recebem mais acento? E os termos “pôr”, “pára”, “pêra”, “fôrma”? Continuam com o acento diferencial?

Termino esta coluna de apresentação com várias interrogações que serão discutidas ao longo das edições. Aguardo você na próxima coluna, com a continuação do  tema  Nova regra ortográfica.

Edição 2690 - 02 a 08 de novembro de 2012 página 8 http://www.gruposulnews.com.br/edicoes.php

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