sábado, 1 de fevereiro de 2014

artigo FÁBULA. Além da moralidade!



 
Caro leitor, continuando as reflexões sobre a literatura universal e a literatura infantojuvenil, comentarei nesse artigo sobre a fábula. Sim, aquele texto que tem por principal característica animais personificados, ou seja, animais que representam as características humanas, mas não só isso. Essas considerações induzem muitas vezes classificá-la como simples textos didáticos havendo contradições e até incoerências sobre conceituações e caracterizações dos textos.

      A fábula é um gênero narrativo e um tipo textual instigante e polêmico. Alguns estudiosos ressaltam a presença de moralidade, seu caráter exemplificador e, por isso, didático. Tive a oportunidade de ser aluna de Maria Valíria de Mello Vargas, estudiosa da influência da fábula indiana na fábula universal. Tive ainda a oportunidade de ser aluna e leitora de outra estudiosa do tema, e melhor ainda, autora de várias obras classificadas como literatura infantil: Maria Lúcia Pimentel de Sampaio Góes. Ela procurou detectar os diferentes tipos da fábula brasileira e acabou por chegar a uma primeira classificatória: "fábula aprendizagem", "fábula didático- moralista", "fábula admiração" e "fábula moderna". A palavra "fábula" reveste-se de significações como: "fala", "prognóstico", "narração de sucessos fingidos", "rumor do povo" e, ainda, "contos de velhas".

       A fábula, como outras produções, surgiu para adultos (ou sem público definido) e foi, exatamente por seu caráter de registro de valores sociais e arquetípicos, incorporada à literatura infantil ao lado dos contos de fadas. E que textos, sendo produções culturais, não trazem os reflexos sociais, morais e ideológicos, se não explícitos, implícitos? O que acontece na fábula é que há um certo hiperbolismo (exagero). Há personagens animais que na verdade,ressaltam as características humanas que se quer destacar, daí surgem pelo processo metafórico, animais/ termos como "cordeiro", "formiga", "cigarra", tomados como "pessoa pacífica", "pessoa trabalhadeira", "pessoa despreocupada", mostrando as analogias por processos de metonímia (parte pelo todo), apresentadas nas narrativas. A fábula, tendo um tema central, apresenta-se como figurativização, ou seja, materialização de um conceito abstrato que pode ser suscitado num provérbio, explicitado no promítio ou no epimítio, ou seja, no começo e/ou no fim do texto. Por essas características, as fábulas se assemelham às parábolas, aos adágios e à alegoria para alguns teóricos são considerados gêneros afins e, para outros, sutis variações de fábulas.
      A fábula é um gênero que tem se atualizado e se adaptado às mudanças sociais e culturais, por meio de reescrita, pelos processos de paráfrase, paródia, estilização, constituindo um dialogismo e uma intertextualidade com os textos anteriores, por alusão na mídia e, por fim, por sua incorporação no vocabulário ativo com expressões como "a galinha dos ovos de ouro".
     Independentemente de qualquer classificação mais detalhada, a fábula é, sem dúvida, parte do imaginário cultural, bem como reflexo desses valores, já que é uma produção humana. Por isso merecerá outro artigo só para comentarmos textos, livros, novelas e filmes que recontam e polemizam as fábulas tradicionais. Até lá!
 
 

Edição 2751 - 01 a 07 de Fevereiro de 2014 http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=187

sábado, 18 de janeiro de 2014

artigo Literatura infantil: só para crianças?

 
LITERATURA INFANTIL. SÓ PARA CRIANÇAS?

Um questionamento constante, seja no meio acadêmico, pedagógico, familiar e até midiático, é sobre a adjetivação “infantil” presente na expressão “literatura infantil”. Há muitas formas de se abordar um texto ou uma produção cultural, e isto ocorre, por extensão, com os contos de fadas e outras produções destinadas ao ou adotadas pelo e para o público infantil. Tema polêmico, seja no que se refere às suas origens, seja na forma de tomá-la para estudos, seja na sua utilização: para leitura fruição, utilização didática, artística, terapêutica. Joana Cavalcanti, em Caminhos da literatura infantil e juvenil/dinâmicas e vivências na ação pedagógica, resume que há várias teorias que versam sobre os contos de fadas e suas origens.
            Há pesquisas linguísticas, sociológicas e psicanalíticas que numa perspectiva interdisciplinar ora se polemizam, ora se complementam. Enfatizaremos, aqui, a abordagem psicanalítica, como os contos de fadas e maravilhosos podem falar ao inconsciente. Segundo, ainda, Cavalcanti, “a criança iniciada no mundo da leitura é alguém que pode ampliar sua visão do outro, que pode adentrar no universo do simbólico e construir para si uma realidade mais carregada de sentido.” Mas o mais interessante é constatar as revisitações em obras não necessariamente para crianças. Comentemos algumas:
           O filme As mil e uma noites  apresenta numa de suas cenas iniciais o seguinte diálogo entre o contador e a Sherazade: “Essa gente fica horas só te ouvindo”, “É que eles precisam mais de estórias que de pão, elas nos ensinam porque viver e como viver”. Os contos respondem às inquietudes e possibilitam o equilíbrio interior, todavia englobam a interpretação literária e literal. São as narrativas que em As mil e uma noites libertam Shariar e por consequência as mulheres e o povo. Shariar encontra nas narrativas a tranqüilidade psicológica e a exemplaridade. O mesmo acontece no filme Inteligência Artificial: a personagem principal, um robô, encontra na história de Pinóquio inspiração e esperanças para sua vida.
         Em outra produção cinematográfica, Novo pesadelo, o retorno de Freddy Krueger, uma criança, filho da atriz que estrelara vários filmes da série A hora do pesadelo, mata o Freddy (esse filme é metalinguístico, pois tematiza que o Freddy, ficção para as personagens, na verdade era real e se alimentava dos filmes produzidos). Em várias cenas noturnas aparece a mãe contando a narrativa João e Maria. Quando começava a narrar o episódio da bruxa, a mãe sempre ameaçava parar, todavia, a criança pedia para que fosse ao fim, pois a criança precisava saber que a bruxa morreria no final. Em uma análise psicanalítica do filme, podemos considerar nessa cena a necessidade de entrar em contato com a problemática na narrativa, mas também com a solução. Segundo Amarilis Pavoni, em seu livro Os contos e os mitos no ensino: uma abordagem junguiana, “não é conveniente contar às crianças histórias cujo final não seja feliz. Elas precisam travar no inconsciente uma luta feroz, mas, para vencerem, é necessário que cumpram o ciclo: medo/ luta/ vitória, problema/ a busca da solução etc.”
         O final do filme é como no conto João e Maria: a criança mata o Freddy: indo ao universo dos pesadelos e deixando as cápsulas de sonífero para que a mãe saiba o caminho. Ao entrar num depósito cheio de fornos, como Maria, se esconde ao fundo e quando Freddy entra, o menino sai correndo e o prende deixando “o monstro” morrer queimado. Freddy pode ser a simbologia do próprio inconsciente, uma vez que ele representa o temido e projeta para cada indivíduo (personagem do filme) o pesadelo que ele mais temia, subtraindo ainda as pessoas, as coisas que o indivíduo mais desejava. Matar o monstro significava libertar-se, vencer a si mesmo.
          Vencer os desafios, ajudados ou não, é uma temática presente em várias narrativas clássicas. Talvez por isso (hipótese para outros artigos) alguns textos bíblicos tenham virado estórias e livros, que lidos mesmo sem o cunho religioso, falam ao indivíduo fortalecendo-o para sua caminhada existencial. Continuemos!
Edição 2749 - 18 a 24 de Janeiro de 2014 http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=179

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ANO NOVO, COLUNA NOVA. jornal interATIVO.

Jornal Interativo, Edição de Janeiro 2014.
ANO NOVO! COLUNA NOVA!
Saiba mais sobre a língua!
 
Caro leitor do jornal INTERATIVO, possivelmente,  ao folhear o jornal,  você já tenha notado a existência desta nova coluna. Ano novo, coluna nova! Aproveito para renovar os votos de um Feliz 2014!
Gostaria de me apresentar: sou  Ivete Irene dos Santos e, além de leitora do jornal, sou professora de língua, literatura e redação, e a exemplo de escritores e educadores colunistas de outros jornais e revistas quero, humildemente, compartilhar dúvidas e conhecimentos sobre a Língua Portuguesa.
Mesmo sendo a nossa língua pátria, com a qual nos comunicamos com amigos, com nossos familiares, a qual utilizamos no meio profissional, quantas vezes não ficamos inseguros sobre a correção ou a adequação do que estamos falando ou escrevendo?
A coluna não será uma aula formal, será uma conversa na qual serão apresentadas dicas práticas e reflexões a partir de situações do cotidiano, com exemplos de trechos de músicas, de propagandas, de poesias, de frases de caminhões, de placas, de trechos de novelas, de “palavras que estão na boca do povo” e até mesmo de dúvidas enviadas pelos leitores, por e-mail.
Que tal começarmos  nossa reflexão? Utilizei no segundo parágrafo o termo “língua”, mas outra palavra que será muito utilizada será “linguagem”. São sinônimas?
“Linguagem” é um termo mais abrangente, corresponde a todo sistema de sinais que é utilizado como elemento de comunicação, mesmo que inicialmente não tenha sido criado para essa função: uma cor em um semáforo, um gesto, um símbolo na porta de um banheiro e até mesmo uma roupa... Por exemplo, alguém vestido de branco proporciona as seguintes hipóteses: pode ser um médico, dentista, cabeleireiro, enfermeiro, babá, cuidador de idosos... Se for primeiro de janeiro, o branco pode ser uma referência à paz ou  ao réveillon.   
“Língua” é uma linguagem verbal. “Verbal” é, nesse contexto, sinônimo de “palavra”. Assim como a linguagem pode ser subclassificada em linguagem verbal ou  não-verbal, a língua tem subclassificações e variações. Essas variações serão o tema da próxima coluna. Encontramo-nos! Até lá!
Contatos: www.ivetando.pro.br 
 


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Crônica PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

 
Edição 2747 - 20 de Dezembro de 2013 a 10 de Janeiro de 2014

Apresentarei, marcadamente nesta crônica, dois elementos discursivos: a intertextualidade, proposta já no título, alusão à música de Geraldo Vandré (como também na evocação de crônicas publicadas aqui por mim e pela professora Daniella Barbosa), e a digressão.
Fuga do tema no início da crônica? Você, caro leitor, deve estar pensando que há outro item implícito a ser discutido: “(in)coerência”. Não há, é que nas duas últimas crônicas prometi retomar, na sequência, os temas “internet”, “cartas”, “a importância da língua portuguesa no contexto profissional”, mas não os retomarei ainda: eis minha primeira digressão nesta crônica.
Muitos escritores textualizam em suas produções: “a literatura inspira a vida e a vida inspira a literatura”. Às vezes parece que as personagens ganham vida própria e escrevem o enredo. Alguns livros como Um sopro de vida, de Clarice Lispector; Quem eu?. de José Paulo Paes, e mesmo o poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa, entre outros, marcaram minha trajetória de leitora por tematizarem o processo de criação e a intersecção do que é real ou ficção. Bom, mas afinal - você deve estar me questionando - qual será o tema desta crônica? Passemos a ele, passemos à minha inspiração.
Devido ao fim de ano, é comum que façamos uma reflexão sobre a nossa vida e uma metáfora constante nos discursos é “colheita”. Como admiradora de textos alegóricos como as fábulas, apólogos, parábolas, tenho sempre me lembrado da Parábola do semeador. Associada ao contexto religioso, a colheita pode metaforizar a própria vida. Entre várias leituras possíveis, faço uma: o ser humano como semeador deve sim semear boas sementes, mas não quer dizer, por acreditarmos que estamos fazendo boas semeaduras, que a colheita será boa. Como criamos muitas expectativas nas diversas relações humanas, essa parábola isenta-nos da cobrança, pois o solo é o outro, e cada um terá uma recepção diferente. Por isso em uma relação recíproca com a vida, as perguntas deveriam ser: “Que semeador tenho sido?” ,“Que sementes tenho jogado?”,  “Que solo tenho sido?”.  Adoro os quiasmos (segundo o dicionário Houaiss, “disposição cruzada da ordem das partes simétricas de duas frases, de modo que formem uma antítese ou um paralelo”) e as relações entre um pensamento e outro, por isso cito aqui uma construção constantemente repetida: “Que mundo temos deixado para os filhos? Que filhos temos deixado para o mundo?”
Quero um mundo melhor? O que tenho feito para torná-lo melhor? Às vezes temos grandes planos, obras homéricas, mas muitas vezes são as pequenas ações do cotidiano que podem ocasionar mudanças. Por isso, pensando no tema “semeadura”, de forma metafórica, literal e literária, penso numa moradora da rua Monte Frio, que há anos tem florido nosso bairro. Poderia usar uma expressão alegórica para resumir sua ação: “um trabalho de formiguinha!”, mas prefiro parodiar: “É um trabalho de abelha, de beija-flor... ou de jardineira!”. Marlene das flores, quantas árvores não forem plantadas por ela? Quantas flores ela semeou? Muitos, envolvidos pela ação dela, passaram a cuidar do seu jardim.
Outro dia assistindo à série Verdejando, da Rede Globo,  conscientizei-me de alguns privilégios e ironias, na Vila Natal, bairro cujas ruas têm nome de flores, há poucas árvores frutíferas. Porém, geograficamente considerando, nós moradores de Interlagos temos sorte de estarmos em um ambiente visualmente cercado pelas represas e pela mata ciliar. Mas, reiterando, o que cada um de nós tem semeado?  Queremos um mundo verde, mas somos incapazes de aceitar que em nosso quintal tenha terra, para não sujar a nossa casa. Queremos mesmo um mundo florido, metafórica e literalmente? Então, imbuídos do sentimento de Natal e da possibilidade de recomeço pelo novo ano, semeemos... para que a vida - como sugere outra música, de Milton Nascimento - “nos dê flores e frutos!”

sábado, 30 de novembro de 2013

Crônica Cartas em tempo de internet

 
Caro leitor, há quanto tempo você não escreve uma carta? Se você tiver menos de vinte anos de idade, talvez a sua última experiência tenha sido na escola.
A pesquisadora Solange Barros, integrante do Laboratório de Estudos em Ética nos Meios Eletrônicos tem divulgado em suas palestras e materiais produzidos  - como os dois livros De bem com a Internet e O uso legal da Internet, disponíveis no link http://www.mackenzie.br/leeme.html -  que as crianças conhecem as cartas em experiências práticas na escola: levam envelopes, escrevem a carta e endereçam-na a um destinatário, portam-se como remetentes. Escrevem, às vezes, neste contexto, como única experiência e como uma experiência única.
Temo, refletindo sobre o tema, que para os nascidos já na época da democratização da internet, e-mails, redes sociais, a carta exista apenas como produção do passado e  referência linguística em “correio eletrônico”.  
Sobre os usuários das tecnologias já há terminologias específicas: os “nativos digitais”, os que nascidos na época do predomínio dessa tecnologia a dominam; os “migrantes digitais”, geração nascida com predomínio de outras tecnologias, mas que fazem uso do computador, da internet; e há aqueles que são alheios a ela: os  “estrangeiros digitais”.  Considero-me uma migrante digital e procuro fazer os bons usos das tecnologias (tema que abordarei em outro artigo) preconizados pelos educadores, filósofos, comunicólogos, psicológicos. 
Penso que as redes sociais podem aproximar pessoas e auxiliar na comunicação, mas também pondero com o filósofo Mario Sergio Cortella:  elas unem o que antes não estava separado.  Não sou negativista, nem apocalíptica, nem saudosista: degusto e presentifico, nessa migração, os recursos anteriores carregados de poeticidade e carinho. Há anos, em um pacto, sobretudo comigo mesma, disciplinei-me a escrever cartas. Tenho uma afilhada que faz aniversário na mesma data em que eu faço e, desde que ela aprendeu a escrever, começamos a trocar correspondências para nos felicitarmos. Isso começou porque cinco anos atrás a internet em Picos, Piauí, onde ela reside, não era tão acessível.
Agora, final de ano, sou motivada a escrever  pelas trocas de cartão, pelo agradecimento aos leitores que enviam cartas ou  livros,  pela escrita de cartas reflexivas sobre o ano que passou e pelos  planos para o ano que começa. Diariamente, correspondo-me com afilhados e amigos usando a  internet, mas tento manter o hábito das velhas e boas correspondências, como registrei, pelo prazer e carinho envolvidos no processo.
Para quem tem a informação em um click, hoje, a demora - dias ou semanas - para uma carta chegar parece uma eternidade. Inacreditável que, há pouco tempo, essa espera era normal e aceitável, pois era o mais rápido que podia ser. Escrevo a carta e tenho que guardar segredo de mim mesma e do destinatário, ou brincar de suspense, pois enquanto a carta viaja, continuo me comunicando por e-mails, redes sociais, telefones...
Por isso mesmo o ato de escrever cartas faz com que as pessoas "pratiquem" outras habilidades, como, por exemplo, a paciência e o controle da ansiedade até mesmo para abrir o envelope.
Esse carinho transpassa a relação entre remetente e destinatário. Tornei-me amiga do carteiro da rua Contos Amazônicos, o Marcos.  Ele sabe de cor o nome dos moradores e, como nós, alegra-se com a entrega de correspondências: quando às vezes o encontro ainda distante de minha rua, questiono “Hoje há mais que contas?” E ele antecipa: “Sim, hoje receberá uma carta!”
Voltemos, então, à pergunta inicial: há quanto tempo não escreve de forma tradicional? Escrita em papel, preenchimento do envelope com remetente e destinatário? Ida ao correio?
EM TEMPO: Continuarei essa temática na próxima edição, pois há muito para tratarmos sobre cartas, cartões, internet... Retomarei, também, o texto anterior, A importância da língua portuguesa no contexto profissional, pois deixei erros: “Ler jornais de textos anteriores revelaM”,  “... às vezes é possível conversar com pessoas com idades diferente( )” e “...como terá passado na seleção, em meio HÁ tantos concorrentes?” . Você percebeu? Precisarei de outro artigo para explicações. Até lá!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

artigo A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO PROFISSIONAL



  
 
A IMPORTÂNCIA A LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO PROFISSIONAL
Muita coisa mudou no mundo empresarial, por isso é comum encontrarmos nos classificados de empregos solicitações de domínio de tecnologias e de língua estrangeira. Então fica a pergunta, por que a preocupação de um artigo com a importância da língua portuguesa? Subentende-se que, se é solicitado o domínio de uma língua estrangeira, a língua materna deva ser dominada. Você deve então estar me questionando: “se a língua portuguesa é minha língua materna, não a domino?” É necessário, então, um novo esclarecimento: não existe uma única língua portuguesa, e não estou me referindo à comparação entre a língua em diferentes países lusófonos (países africanos, asiático e europeu  que falam língua portuguesa), refiro-me às línguas portuguesas aqui do Brasil. Bem preconizou o linguista Evanildo Bechara: “É preciso ser poliglota na própria língua”. Essa expressão parece paradoxal, mas não é. Como já afirmamos, não existe só uma língua portuguesa falada no Brasil e também não me refiro às transformações ao longo do tempo.  Ler um jornal de séculos e décadas anteriores revelam as mudanças da língua, mas há mudanças  também em comparações sincrônicas. Algumas situações: viajando para outros estados deparamo-nos com expressões por vezes  inusitadas; às vezes é difícil conseguir conversar com pessoas com idades diferente por usarem expressões típicas do seu grupo etário; um texto jurídico ou mesmo uma bula de remédio, mesmo sendo língua portuguesa torna-se, por vezes, estrangeirismos.
Mas centralizemos nossa discussão na proposta do título: o contexto profissional solicita certos protocolos da língua. O linguista aqui citado compara a língua a uma roupa. Há uma etiqueta social que indica qual roupa usar em determinado contexto. Alguns defendem que o importante é comunicar, assim como o importante é estar vestido, mas a linguagem, como roupagem,  como discurso, símbolo, ajuda a compor uma imagem, por isso, a inadequação pode ser negativa. Dominar os procedimentos de sua área profissional, sua área de atuação, mas não conseguir expressar seu conhecimento  é incoerente, e não adianta declarar “peço para meus assessores me ajudarem”. Como explicará claramente o que quer? Ou melhor, antes de ser o chefe e ter assessores,  como terá passado na seleção, em meio há tantos concorrentes? Bastará apenas conhecer bem sua profissão?
 No contexto profissional, sobretudo naqueles que exigem produção escrita, apresentações, a norma cobrada é a culta, com correção gramatical; os textos devem ser claros, objetivos, sem serem ríspidos; devem  ser bem escritos, sem serem retóricos ou coloquiais.  Na oralidade, no contexto informal, os desvios em relação à norma culta passam despercebidos, até mesmo por que outros recursos se fazem presentes: gestos, entonação, cumplicidade na interação, presença física, compartilhamento do contexto comunicativo; Por isso transplantar as características de produções de um contexto informal para o formal pode ser inadequado e pouco produtivo. Sabemos que os recursos tecnológicos podem auxiliar e muito na produção escrita, eles mudaram também a intensidade e a forma de se comunicar, mas também é preciso conhecer esses recursos para usá-los producentemente... E isso é tema para um próximo artigo: “E-mails profissionais, abreviações, corretores ortográficos, pesquisas na internet, redes sociais... Como fazer um bom uso?”
http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=161 (página 14)
 Edição 2743 - 22 a 29 de novembro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PROFESSORES E MÉDICOS DE CORPO E ALMA!


http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=145 página 4
Edição 2739 - 26 de Outubro a 01 de Novembro de 2013

 


Na semana anterior, duas datas significativas para mim ocorreram: o dia do professor e o dia do médico. Não abordarei aqui as polêmicas em torno dos temas educação e  saúde, tratarei dos temas mais subjetivamente.
A primeira data tornou-se  significativa antes mesmo da minha escolha profissional. É chavão, mas bem resume o comentário “você pode ser advogado, psicológica, médico, dentista... mas para tudo isso precisou/precisará de um professor”. Como aluna, tive a abertura ao mundo, o ensino foi uma janela, como na frase “Vais encontrar o mundo”, do livro O Ateneu, de Raul Pompeia.
            Já cheguei à escola alfabetizada pelo meu pai que comprara a cartilha na feira e rotineiramente me tomava as soletrações e a tabuada. Rígido, não permitia erros nem divagações. Foi na escola, pela professora, que tive despertada a curiosidade. Certa vez assistindo a um episódio Taken, uma série sobre extraterrestres, dei-me conta que fui felizarda, pois  a personagem mirim e precoce conhece um professor e relata sua desilusão com a escola, pois chegou à instituição cheia de curiosidades, mas pouco depois estava sendo podada.
Sei que há bons e maus profissionais, e em todas as áreas.  Ressalto aqui os bons e aqueles que me inspiram até hoje. Não gosto de associar a escolha profissional a um sacerdócio, sobretudo porque descaracteriza a necessidade de  que todos devam ser bem remunerados. Como educadora, acredito que a aptidão e as habilidades possam ser desenvolvidas e despertadas.
Foi com a Azuba que tive meu contato com as fábulas, com o teatro: ela fazia além do que as cartilhas propunham. Na quarta-série, com a professora Rita, escrevi meu primeiro poema sobre o eclipse. Na sexta-série, com a professora Aureni, não só líamos livros de gramática, escrevemos e criamos nosso próprio livro e exercícios, e trocávamos: éramos autores e leitores. Tive vários bons professores no antigo ginásio que reforçaram o meu interesse em ser professora.
 Cursei CEFAM Interlagos, Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério.Tive a oportunidade de experienciar a profissão como estagiária. Conheci uma professora que marcou muito minha formação: Marisa Neves, sempre me incentivando a escrever: era minha leitora não só das atividades escolares, mas de meus rascunhos artísticos. Em uma das conversas me ajudou a escolher e delimitar ainda mais minha profissão. Eu sonhava entrar na USP, em Letras, muitos me desanimavam: “Jamais estudará lá!”; Ela, ao contrário, dizia: “És capaz de entrar!” Anos depois,  tornamo-nos colegas de disciplina de pós-graduação, alunas em um curso. Chegamos a lecionar juntas na mesma faculdade e o que era mais generoso era ver a alegria  dela pelo que eu tinha me tornado, sem buscar a autoria: ela era uma das responsáveis pelo meu sucesso pessoal.
Lecionei em vários cursos de Letras e Pedagogia e, numa corrente em que se repete o que foi aprendido, fico feliz com a semeadura: encontro meus professores,  a voz deles ecoam em mim, e eu ressoo nas voz de ex-alunos que hoje são colegas de profissão.  No fazer o que é obrigatório talvez não haja mérito, é apenas um bom trabalho, mas há pessoas que fazem além,  em todas as profissões. Por um problema de saúde tenho convivido muito em clínicas, laboratórios e hospitais.
Não é fácil receber um diagnóstico de doença, sobretudo quando a elas está associada uma sentença de morte. “Neoplasias”, “hepatopatias” e algumas "ites", nomes que assustam até mesmo aqueles que adoram estudar a semântica e a etimologia. Nem sempre os eufemismos amenizam a preocupação,
mas alguns têm a sorte de se deparar com médicos que em vez de focalizarem a doença, focalizam a saúde e tornam a caminhada mais amena e possível, mostrando que todos têm suas limitações, seus pontos nevrálgicos. Não que estejam ignorando o sofrimento, mas ajudam a enxergar que “apesar de”, é sim possível viver.
Nessa minha caminhada alguns têm ajudado, no papel de médico, a carregar a bagagem. Há, portanto, médicos de corpos e de alma,  assim como há professores de conteúdo e de vida.

sábado, 24 de agosto de 2013

crônica VIDA DE CÃO?

 
 
 
Retomo aqui as minhas origens como colunista de jornal: abordarei mais questões linguísticas que literárias, embora haja uma intersecção entre ambas. Comecei em novembro com a Coluna Em dia com a língua,  em que  pretendia abordar questões de linguagem, sobretudo linguagem verbal e norma culta, mas como eu afirmei, alguns conceitos estão inerentes às duas áreas: “intertextualidade”, por exemplo. Pesquisando depois sobre a expressão a qual se tornara o  nome da coluna, deparei-me com a existência de um livro com o mesmo nome. É a questão de autenticidade e plágio abordada na crônica Reescritas e releituras. Lendo nas férias de julho crônicas de autores dos quais eu gosto, deparei-me com uma crônica intitulada “O nome das coisas”, de Deonisio da Silva, no livro  A língua nossa de cada dia. Meu Deus, o mesmo nome de minha última crônica sob o título da coluna Em dia com a língua! Reforço, a inocência, defendo a coincidência de pensamentos, a interdiscursividade presente ao se escrever sobre temas correlatos.
Mas você leitor deve estar se perguntando sobre o título  desta crônica. O que isso tem a ver com vida de cão? Motivada pela  questão de intertextualidade, fiquei pensando nas expressões que repetimos e nem sabemos mais a autoria ou não nos damos conta do significado. Pensei em tudo isso assistindo a programas sobre animais domésticos, sobretudo sob a influência de meu marido que é fotógrafo e tem se especializado em fotografar animais. Poderia ser uma crônica sobre afetividade, vida doméstica, relação homem-animal, e é tudo isso, pois os exemplos resumirão essas relações.
Séculos atrás, ou mais recentemente, décadas atrás, dizer que se tinha uma vida de cão conotava uma vida sofrida.  O dicionário Houaiss registra o sentido metafórico de cão como “pessoa muito má, vil” , sem deixar de citar associação ao termo “diabo”, muitas  vezes ressaltado na expressão “cão dos infernos”. Uma personagem de uma novela usava a expressão “vira-lata” para se referir a pessoas que não pertencia ao núcleo socioeconômico e cultural da personagem “com pedigree”.
Mais atualmente, os cães têm se tornando mais próximos aos humanos, ganhando afeto e despertando afeto nos humanos. A sociedade mudou, muitos têm podido humanizar os seus animais, à revelia de alguns. Na década de 80, por exemplo, o  Rock das cachorras incitava:    “Troque seu cachorro por uma criança pobre”. Nos anos noventas, a TV Colosso substituiu o programa da Xuxa; Nesta década, temos horários reservados aos programas sobre animais, revistas especializadas, e serviços específicos, antes destinados só aos humanos.  Ou seja, o ramo que  mais cresce é reacionado aos pets; sim, outra questão linguística: o termo está incorporando e cito página “fotopet.com.br”. Por isso “vida de cão” pode significar, hoje, uma vida invejável.
Os animais sempre estiveram no imaginário cultural e linguístico: “Ele é um gato!”, “idade da loba”, coruja como símbolo de  sabedoria, dois pombos como símbolo de amor,  os pinguins como símbolo da família, borboleta como símbolo da mudança...  Nem sempre os símbolos são positivos, por exemplo: hiena, cigarra, tartaruga, vaca, galinha, burro, asno, porco, cobra, macaco, anta, paca, entre outros, são muitas vezes associações  vilipendiosas.
Eu trabalharei  com as fábulas em meu mestrado, considero-as mais que metáforas,  destaco as relações metonímicas, pois associamos por um aspecto dentre vários existentes no animal. Por isso gosto tanto das paródias, pois elas apresentam e polemizam outros aspectos . No poema Sem barra, José Paulo Paes destaca: “Mas sem a cantiga / da cigarra/ que distrai da fadiga,/ seria uma barra/ o trabalho da formiga.” Nas  inúmeras versões de Chapeuzinho vermelho e o lobo o enredo, e o próprio título,  propõem outras reflexões  Chapeuzinho e o lobo guará.; Chapeuzinho vermelho e lobo não tão mau assim; Chapezinho vermelho politicamente correto;  Outras obras também suscitam reflexões sobre a relação homem-animal ou mesmo homem-homem, como o filme O planeta dos macacos ou os livros A revolução dos bichos de  George Orwell e Os saltimbancos, de Chico Buarque, prosopopeias. 
Gosto, ainda, hábito de infância, de referir-me a pessoas por uma característica que as identifique, pois nem todos os meus amigos se conhecem pessoalmente e, confesso, às vezes é por uma associação a um animal. Claro que em tempo em que a língua deve ser politicamente correta, sempre me preocupo com o tal bullying. Ana Grasi,  por exemplo, é identificada em meu discurso como Ana Jabuti, pois tenho várias amigas “Anas”.  Ana Jabuti,  como eu, adora os quelônios e, em meio às discussões sobre a revolução tecnológica, pois ela é doutora em Ciência da Computação, divagamos sobre o nosso estimado animal. Não enxergamos neles a lerdeza da qual falam,  desejamos ter vida longa como eles, e carregar a casa nas costas...
 
Edição 2730 - 24 a 30 de agosto de 2013

sábado, 10 de agosto de 2013

Crônica SENDO POETAS EM UM MUNDO CADUCO!

Começo retomando a crônica da Daniella Barbosa publicada na semana passada. Inicialmente, para agradecer ao que chamaria homenagem, mas principalmente, quero agradecer à  parceria, estendida aos leitores que têm também contribuído com manifestações positivas em e-mails e mídias sociais, compartilhando mensagens, livros e informações literárias.  Retomo aqui também as reflexões sobre intertextualidade e sobre o poetar como ação, talvez  imbuída pelo dia do escritor, comemorado dia 26 de julho, e pelo contato mais próximo com amantes da literatura:
Li o livro Crônicas  Natalinas, enviado por E. Figueiredo. O livro  não se restringe ao tema proposto no título, sintetiza: “é nessa fase, fim do ano, que mais revisitamos  nossa história” . E o autor rememora as mudanças ocorridas na língua portuguesa, nas crônicas Nostalgia e UAi!; revive suas primeiras leituras em Euseitudo! , Os três mosqueteiros eram quatro! e nas narrativas sobre os super-heróis e sacis, sem deixar de citar os outros textos que remetem à história do Brasil e nos convidam a repensar nossa própria vida. Também propõe isso Vera Maria Barbosa.
Essa autora que tem vários outros escritos e alimenta um blog com seu poetar,  presenteou-nos com o livro Falando à alma. Com temática que inicialmente o classificaria como autoajuda, tem aspectos literários expressivos: nas antíteses propostas na construção das crônicas Amigo, Amor e paixão, e É bom; na intertextualidade proposta na retomada e no repensar textos religiosos  e textos poéticos, provocando o leitor a se perguntar “Foi Pessoa? Ou foi Camões?”; Na metaforização de comparar o ser humano à água, ao rio que tornam os seus textos parábolas, permitindo uma pluralidade de leituras, como já defendemos.
Também apresento aqui um tom mais subjetivo, testemunhando que isso não diminui  o valor do texto, uma vez que o relato  pessoal pode refletir o coletivo : a literatura como metáfora apresenta múltiplas leituras e interpretações. “O que deveras sente”, o “fingimento poético”,  o aparentemente, mas não necessariamente biográfico e singular podem “ metonimizar” o coletivo, como tematizaram  Drummond no poema Canção AmigaEu preparo uma canção/ em que minha mãe se reconheça,/ todas as mães se reconheçam,/ e que fale como dois olhos” e Fernando Pessoa em Autopsicografia:O poeta é um fingidor. /Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor /A dor que deveras sente. //E os que leem o que escreve, /Na dor lida sentem bem, /Não as duas que ele teve, /Mas só a que eles não têm.”
Dia 21 de julho tive a oportunidade de ir ao evento da COOPERIFA na biblioteca Mário de Andrade. Vários acontecimentos culminaram em uma emoção singular. Emocionou-me  o fato de eu saber   do evento por uma ex-aluna, e hoje colega de profissão, Elaine Martins: amante e divulgadora da poesia, como educadora e como integrante do grupo. Revivi ainda, mentalmente, o primeiro sarau “público” para divulgação das poesias ganhadoras de um concurso literário no qual participei em 1996, naquele mesmo local.
E pensando como a poesia é mesmo metafórica, pois mesmo abordando temas específicos sobre os problemas da região, extremo-sul, como é referenciada em muitos textos de divulgação sobre o grupo, os poetas falam sim da realidade singular da região do Capão Redondo, mas num “quiasmo discursivo”  recuperam discursos de outros poetas, ou seja, tratam de inquietudes que refletem os problemas gerais, as inquietudes humanas e sociais, como as  levadas à ruas nas passeatas em junho, textualizadas em poesias panfletárias  ou não, contemporâneas ou clássicas. Reli, por meio da declamação e retextualização dos poetas da COOPERIFA: A flor e a náusea, de Drummond; Águas de março, de Tom Jobim, sem listar as centenas de poetas que me vieram à cabeça, resgatados pelo que ouvia. E o melhor, ouvir o encerramento emblemático: “A poesia venceu novamente!”, como o hino do grupo,  encheu-me  de uma estimulante perseverança e certeza: “Sim, poetar é lutar!”... e não há papéis , ou leitura determinada nesse processo. Eram do tal extremo-sul, encontram-se no bar biblio-poético às quartas-feiras, mas estavam ali, no centro de São Paulo, na biblioteca, em uma poesia viva, num sábado, e sempre nos blog, em vídeos, em redes sociais. É o grupo, a poesia, rompendo fronteiras geográficas e temporais.
Eu, às vezes, ouso escrever, mas tenho sido, prazerosamente, mais leitora e, por meio das relações permeadas pela paixão pela literatura, educação,  estendem-se, de forma hipertextual as reflexões e, sobretudo as amizades. Assim, polemizando a provocação proposta por  Drummond, ousamos, juntos, ser poetas nesse mundo caduco.
Edicao-2728-10-a-16-de-agosto-de-2013 (página 26) http://www.gruposulnews.com.br/flip.php?id=115

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